terça-feira, 21 de agosto de 2012

Só eu mesma posso salvar minha alma, Francisco, e por você escolhi não salvar.


Aprendi a diferença entre estar pronta e se sentir pronta e só então pude começar a escrever sobre você, sobre o que foi, o que é e o que sempre será. Fui aos poucos substituindo dores eternas por outras mais tênues, fui substituindo as lembranças tristes por outras bonitas e singelas. Tirei suas fotos dos porta-retratos e deixei de falar o teu nome tantas vezes por dia. Com o passar dos meses eu fui parando de discar seu número, de escrever-lhe cartas que provavelmente nunca enviaria, de reviver tudo o que vivemos juntos procurando onde foi que errei. Com o tempo eu fui aprendendo a te deixar seguir e mesmo sem saber, segui também. Você conheceu gente nova, foi aos lugares que eram nossas e gravou outras lembranças, ouviu nossas músicas na companhia de outra. Você trocou meu beijo, meu cheiro, o som da minha voz… Você se sentiu pronto para seguir sem mim e eu me fiz pronta para seguir por você.

No tempo que se passou, meu batom carmesim fez-se intacto em meus lábios macios e ninguém tirou a renda que cobria os meus seios para tocá-los. Lembro-me de ter me feito tua, irremediavelmente tua, e essa foi a promessa que selei com o nosso amor. Meu amor me tombou a uma ingenuidade delirante e nem em meus mais profundos abismos me enxerguei sem você. Teus olhos acendiam os meus, que hoje cinzentos, são o mausoléu desta alma que se fez tua.

Não deixei de viver, mas por vezes e vezes desejei que meu coração parasse de pulsar. Eu quis sim, confesso, simplesmente parar de respirar. Murmurei, esbravejei, repudiei os céus por tua partida. Culpei santos, demônios e até entidades inteiras por uma escolha que na verdade foi tua, só tua. Ninguém quis me salvar, ninguém entendeu minha dor. Só eu podia salvar minha alma e te digo que não quis.

O relógio já marcava três da manhã e sozinha no breu da madrugada, me peguei vendo meu sangue escorrer pela lâmina afiada que eu corria pelo corpo. Fiz questão de afiá-la para ter certeza que se não me matasse, me marcaria para sempre. Corri a lâmina por minha gélida e pálida pele, minhas veias sobressaiam sob minha pele branca. Num dia qualquer prendi a respiração e senti a vida pulsar no meu pescoço, passei a lâmina e o sangue banhou os seios onde teus lábios um dia se deleitaram; não havia arrependimento nem medo, nem dor. Nada havia. Esperei perder todo o sangue do corpo e provavelmente devo ter desmaiado de tão fraco que meu corpo se fazia. Acordei debruçada sobre os lençóis manchados muitas horas depois e pelo corte podia ver a veia ainda pulsar. Era vida. Não te liguei nem escrevi mais, morri naquele dia. Arranquei minha alma e a vendi pelo preço do meu sangue.

Sou hoje um corpo vazio que perambula cambaleante pelos caminhos tortuosos do mundo. A vida me escolheu, Francisco. Eu não escolhi nada, nem pela minha morte pude optar. Achei que seria incapaz de ouvir tua voz sem me desfazer por dentro, mas o que eu tinha de bom, você arrancou. Meu coração jaz aqui dentro deste peito e não pulsa mais, apenas tosse - doente -. Enterrei meu amor, minha vida, minha alma e me fiz pronta para seguir. Isso não é para você, mas sim por você. Fiz-me forte e até aqui cheguei, me tornei assassina da minha fé e amor nem sei mais o que é. Eu me permiti te amar e escolhi não salvar a minha alma.

Eu sou o barulho sufocado pelo teu silêncio.


Seguro meu último suspiro como se fosse a esperança que ainda tenho de me perder em ti novamente. Meus pulsos fracos mal conseguem suster a vida em mim, não sei se consigo mais. Seguro meu último suspiro como quem segura a vida dentro de si, mas me sinto fraca, impotente.

Essas poucas lágrimas não cessam mais. Minha dor arde nas veias, minha cura é também minha condenação. O buraco no meu peito tem suas medidas, a saudade me causa feridas que nem mesmo meu amor é capaz de curar, e eu sangro.

Minhas mãos pálidas tentam unir as palavras para que um dia você leia. Espero que as leia e sinta as ulcerações que tua falta causou no meu seio. Meu corpo urge tua falta. Meu coração grita, geme, chama. E você não escuta.

Eu sou o barulho sufocado pelo teu silêncio e meus gritos são pequenos tremores na fortaleza que você fez ao seu redor. Não sou eu mais a tua cura? Não sou eu tua tormenta? Minha luz não brilha mais aos olhos teus? Tornei-me chama fosca, fogo que não aquece. Vivo, sem esperança. Estou aqui e ao mesmo tempo não estou.

Eu não estou, querido. Não mais estou aqui…
E provavelmente um dia será irremediável.
Tire o veneno de mim ou me deixe tragá-lo de uma vez. Me tome e me ame ou simplesmente me deixe, sempre foi assim. E sempre será.

Francisco, obrigada por me destruir.


Deu-me suas palavras doces, e suas atitudes mais afáveis. Deu-me atenção e fez entender até que me amava, quando no fim de tudo, só amou a si mesmo. Essa é a única verdade, você só ama a si mesmo, Francisco. E pensei que seria diferente, porque afinal, eu me revelei a você. Me despi da minha coraça e te mostrei minha face mais vulnerável. Te amei, Francisco. Com corpo, alma e coração, eu te amei. E amo, ainda amo; por mais esforço que faças em tentar me ferir - e mesmo obtendo sucesso em todas as tentativas -, meu amor não se foi. Ele continua aqui. E cada pulso do meu coração, cada respiração minha, cada vez que pisco os meus olhos ou quando o meu sangue pulsa em minhas veias, minh'alma se desfaz de amores por você. Em vão são todos os esforços que faço para enterrar esse amor. Enterrá-lo seria como enterrar a mim, e toda a vida que ainda habita este corpo. Francisco, querido, não posso suplicar teu amor. Amor não se mendiga.

Espero que seus olhos se abram antes que os meus se fechem, e que se coração se retome de suas faculdades antes que o meu pare de bater. Espero com veemência que ainda haja amor aí dentro, Francisco. Porque meu caro, os corpos padecem pelos males da alma, e o meu não há de resistir muito mais. Meus olhos piscam, meus pulmões se enchem e esvaziam de ar, meu coração pulsa, minhas veias sobresaem à esta pele pálida. Minhas lágrimas escoam, meus lábios enrrugam-se, meus olhos se fecham. E quando se fecharem, não mais abriram; minha alma padece esquálida de tanta dor. Minh'alma, Francisco, é um amontoado de cacos e todas as minhas palavras agora são memórias póstumas. Teu amor está me consumindo. Meus sentimentos são maiores que eu, e me inundam. Não há espaço, não há como escoar tudo isso. Minhas entrelinhas foram rabiscadas, não há mais como me decifrar. Minha dor, minha temida e terrível dor, não cessa mais. Nem de dia, nem a noite. Não cessa nunca. Não há sol nem luz, não há mais sonhos ou esperança, só há a morbidez da espera da tua volta. Por deus, ou todas aquelas divindades em que você acredita, escute-me dizer pela última vez que minha alma vai, o corpo padece e a carne pode até apodrecer, mas o meu amor, Francisco, meu amor por você nunca vai morrer.



Volte para mim, Chico. Eu não sei mais viver sem você.

Posso me arrepender disto mais tarde, mas nada me doerá mais que a tua ausência. O vago impreenchível está aqui desde que se foi e suas palavras frias não me preenchem mais. Ouvir a tua voz ou mesmo sua respiração me parecia o bastante, mas agora nada mais tenho. Teus beijos pertenceram a outra e seus abraços são doloridos como as saudades que choro de ti. Não sei mais me ser, Chico. Não sei mais continuar. Sem você não dá.

Me rendi a você de todas as formas que pude, deixei de ser ali e acolá, abandonei hábitos antigos, fui me tornando outra pessoa sem perceber. Descobri que amar é assim mesmo, a gente se dobra, se molda, se refaz. A gente deixa alguns defeitos pra trás, se torna mais doce, mais afável… A gente aprende o peso da saudade e aprende a medir distâncias com lembranças. A gente aprende a se entregar, a se doar, e muitas vezes, nem receber nada em troca. A gente aprende a esperar e a nunca desistir. E de que vale tudo isso, Chico? De quê? Tudo me lembra você e meu peito aperta cada vez que pronuncio teu nome. Tua ausência está me devorando. Você não vê? Eu já não mais suporto a dor de não te ter.

Por onde passo exalo saudades tuas e conto nossa história a todas as pessoas. Quero que tenham esperança e que saibam que o amor ainda existe, e ele nos encontra. Por você eu sofro, Chico. Eu choro todas as minhas lágrimas, sinto toda a dor que me for dada… Por você eu morro, Chico! Porque, cá pra nós, sem você não vale a pena viver. Vou escrevendo toda a minha dor e toda a minha saudade esperando que um dia você leia e que entenda. Vou escrevendo, esperando que você leia, entenda e volte. Como diria Caetano: “E cada verso meu será pra te dizer que eu sei que vou te amar por toda a minha vida…”, é verdade Chico, eu sempre vou te amar e “cada volta tua há de apagar o que essa ausência tua me causou”.

Cansei de pôr emplastros no meu coração, cansei de fazer curativos sobre os cacos meus. Preciso de você, Francisco. Tirei a aliança que me pôs no dedo e a pus no coração. O coração que bate no meu peito, mas pertence a você.

Volte para mim, Chico. Eu não sei mais viver sem você.

Carioca, moreno, alto e dono do meu coração. Sim senhor, dono do meu coração.


Dos olhos amêndoados e o sorriso maior que a boca, do abraço que parece beijo, e o “até logo” que parece “adeus”; moreno, quase vinte e poucos, dono do meu coração. Alérgico a sol, com medo de mar; e nada que nem um peixinho! É como o verão de tão intenso. Cabelos negros, pele acinzentada, mãos pequenas, braços longos. Pele lisinha, macia que nem algodão. Com uma cicatriz na perna e algumas outras no coração. Fica corado quando se sente envergonhado; aperta os olhos, balança o cabelo, curva a cabeça. Sorri. Sorri de meia-boca o sorriso mais doce do mundo. Com jeito bossa-nova e sobrenome que fala mais que o próprio nome. De palavras tropeças e até travessas. Voz forte, imponente e uma risadinha insinuante no fim de algumas frases. Sabia me fazer arrepiar dos pés a cabeça, sussurrando ao pé d’ouvido meu.

Minhas mãos trêmulas nas tuas mãos firmes e macias. Meu corpo voluptuoso junto do teu corpo pálido; nossas respirações. Pulsando como um só, nós dois, amor, fizemos juntos nossa melodia mais bonita: a do nosso amor.

Teu cheiro de framboesa impregnou minha alma, tua risada trazia deleite aos meus ouvidos. Teu beijo fazia meu corpo vibrar em vários tons e sintonias diferentes. Passando minhas unhas pela tua pele delicada, meu coração sussurrava ao teu. Te pertenço. Sou tua, toda tua. E sempre serei. Meu corpo, minh’alma, minha vida e todo o meu eterno e intenso amor.

Meu amor, já disse-nos Saint-Exupéry em “O Pequeno Príncipe” que tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Você é responsável por tudo de mais bonito que há em mim.

Com os olhos de cachaça, noites mal dormidas, madrugadas em um bar. Eu te espero e te aceito. E te amo. Para sempre. Porque por você vale a pena, por nós vale a pena…

Carioca, moreno, alto e dono do meu coração. Sim senhor, ele é real, eu juro.

Um dia não haverá mais guerra, Helena…


Não haverá dor nem lágrimas só ão de existir as lembranças vagas de um passado distante, turvo e nem um pouco saudoso que não mais te farão mal. Haverá paz, querida. E você sorrirá forte, como antes. Sorrirá para mim. As outras pessoas serão testemunhas da tua felicidade e você será um referencial de esperança.

Sua vida brilhará como o sol do meio dia, Helena. Tudo se fará diferente e as coisas vão dar certo. Coisas boas vão acontecer. Você voltará a dançar com sua alma e sorrir de dentro pra fora. Seus olhos contarão uma história vitoriosa. E toda a tua luta terá valido a pena. E Francisco voltará; eu sei que voltará. A dor escreveu em vocês com tinta de caneta e vocês agora irão tatuar juntos um no outro a felicidade que sentem por finalmente estarem juntos. E desta vez será para sempre.

O amor existe e você sabe disso. Nem tudo é como a gente quer, mas um dia o telefone toca, a carta chega, as coisas começam a florir… Um dia a gente tira o luto e vai a luta, Helena, e entre uma batalha e outra, acaba vencendo. A maior de todas é levantar da cama todos os dias, e esta você têm vencido. Aquieta o coração, tua cabeceira está adornada de flores. Arranca os espinhos do peito e joga sementes novas. Deixa que o tempo cuida, o tempo cura. Só o tempo pode fazer isso, Helena querida. Aprenda a selecionar quem entra na sua vida, não vale a pena sofrer por gente pequena. Gente grande, Helena! Deixa eles te transbordarem, deixa. Só você se completa, mas existe muita gente que pode te fazer transbordar, mulher; transbordar coisas boas.

Tuas estrelas te guiam por um caminho de luz, não curve a cabeça, as estrelas ficam no céu então trate de olhar pra cima. E quando tudo isso acontecer, querida, tua tormenta interior cessará, e não haverá mais guerra, Helena. Não haverá mais guerra.

Eu me desmancho por você, Chico.

Te aceito com as tuas manias, teus defeitos e tua barba por fazer. Te aceito, Francisco, com a sua mania feia de beber. Te aceito com o sorriso maior que a boca e o olhar maior que os olhos. Te aceito nem sei porquê e se sei, não quero dizer. Te aceito, Chico. Pronto. Sim, eu te aceito.

Faz careta, boca torta, fecha os olhos. Nem se quer uma fotografia descente você consegue tirar. Sempre tentando fazer piada de tudo, na maioria das vezes sendo mais inteligente do que precisa ser. Você e seu amor pelos números, você e seu estranho amor por mim… Morena voluptuosa, escandalosa, de coração maior que o peito. Como pode? Todo-todo. Letrado, vivido, cheio de bons amigos e más companhias. Como pode! Se interessar logo por mim? Por mim? Logo por mim?! Sempre fazendo a coisa errada no momento certo e me reconquistando com um sorriso simples. Um só.

Olha pra mim, Chico. Sem rir. Só olha…

Meus maiores segredos estão guardados nos teus olhos, meu querido. Trocando longas conversas por curtas bebedeiras, sem hora pra chegar e com hora pra sair. Eu aprendi a dormir acompanhada e acordar sozinha. Na hora H, você desaparece. Mas reaparece logo, todo malandro, sempre cheio de saudades. Teu cheiro, teu beijo, teu olhar… Ah! Estão todos tatuados em minh’alma. Ninguém te arranca de mim, homem. Porque… Porque… Eu não sei. Porque eu não quero - talvez -. Você traz cor pra minha vida, Chico. Você ilumina até os meus dias mais escuros.

Você quer ser grande, eu só quero ser sua.
Você quer o céu, eu só quero seus beijos.
Você quer a mim, eu quero a você. Simples assim.

Não sei se daria certo. Você assim, eu assim. Bossa, samba, pagode… Rock! Não sei não… Você não toma jeito e eu não sei se te endireito. Só sei que te aceito, assim, exatamente do jeitinho que você é. Eu te aceito. Nem precisa me pôr uma aliança no dedo, eu te aceito do mesmo jeito. Te aceito com cheiro de cachaça, com olheiras, de mal humor… Eu te aceito, Chico. E te cuido. E te amo. Porque, Chico, eu me desmancho por você.

sábado, 23 de junho de 2012




Fernanda querida, chore todas as tuas dores. Desespere-se, perca o controle! Pelo menos uma vez na vida, deixe de ser você. Eu sei, as vezes é insuportável nos ser e dói por muitas vezes só o fato de nossos corpos resistirem a morte. Porque a morte começa por dentro e vejo que você já jaz, querida. Tua vida se foi, como um sopro, e ninguém vê. Seu rosto, tatuado pela dor dos dias que se sucedem, é a figura mais realista da falta que alguém faz. Entrega teu coração a mim e me deixa tentar sará-lo, por favor. Deixe-me retalhar sua alma, cuidar das tuas feridas. Deixe-me descobrir um elixir qualquer que te faça querer viver novamente. Fernanda, querida, não saias sem aproveitar o melhor da festa. Viva para sorrir, para rir. Viva para ser feliz. Porque eu sei que uma hora ou outra, você vai. Assim como eu.

Arranca de ti as rosas que colocaram, arranca de ti essa coroa de flores. Arranca já! Arranje um perfume e deixe de lado esse aroma de velório. Fuja de ser você, se não aguentar mais, mas não desista de viver. Não desista de sonhar e ter esperanças. Algo bom para alguém bom. Sempre tem.

Helena.
“Cinco horas e meia num ônibus que chacoalhava mais do que as pulseiras de minha mãe. Este foi o primeiro choque de realidade que tive. Mais engraçado não podia ser, gente de verdade é a coisa mais linda do mundo! Uma mocinha que sentou-se ao meu lado me ofereceu um pedaço de bolo de fubá que confesso nem ser tão gostoso, mas o carinho, o cuidado e o sorriso da menina para mim, fizeram aquele bolo me forrar o estômago durante horas. Gente de verdade, gente de verdade! - sorria com o canto dos lábios enquanto escrevia em seu caderninho -. É disto que o mundo precisa: gente de verdade. A imagem da menina mulata com belíssimos cachos no cabelo nunca irá me sair da memória. De tão pura e linda, a menina era como um raio de sol. Conversou comigo um bocado durante a viagem e foi atenciosa ao ouvir as respostas que eu dava para as perguntas que ela fazia. Sua mãe vestia um belo vestido vermelho de bolinhas brancas com um cinto largo posto sob a cintura. Podia ser mais real? Tudo era tão colorido, tão cheio de vida. E eu parecia uma menina que nunca tinha visto o mundo. Sentia-me pequena diante de coisas tão simples que nunca antes me foram apresentadas. Tudo se resumia àquela cena: a menina, sua mãe, o bolo e o vestido de bolinhas. Simples. Eu seria capaz de ser feliz com aquilo. Eu seria capaz de ser feliz assim, somente com as coisas simples.”

Eu me desmancho por você, Chico.


Te aceito com as tuas manias, teus defeitos e tua barba por fazer. Te aceito, Francisco, com a sua mania feia de beber. Te aceito com o sorriso maior que a boca e o olhar maior que os olhos. Te aceito nem sei porquê e se sei, não quero dizer. Te aceito, Chico. Pronto. Sim, eu te aceito.
Faz careta, boca torta, fecha os olhos. Nem se quer uma fotografia descente você consegue tirar. Sempre tentando fazer piada de tudo, na maioria das vezes sendo mais inteligente do que precisa ser. Você e seu amor pelos números, você e seu estranho amor por mim... Morena voluptuosa, escandalosa, de coração maior que o peito. Como pode? Todo-todo. Letrado, vivido, cheio de bons amigos e más companhias. Como pode! Se interessar logo por mim? Por mim? Logo por mim?! Sempre fazendo a coisa errada no momento certo e me reconquistando com um sorriso simples. Um só.

Olha pra mim, Chico. Sem rir. Só olha...

Meus maiores segredos estão guardados nos teus olhos, meu querido. Trocando longas conversas por curtas bebedeiras, sem hora pra chegar e com hora pra sair. Eu aprendi a dormir acompanhada e acordar sozinha. Na hora H, você desaparece. Mas reaparece logo, todo malandro, sempre cheio de saudades. Teu cheiro, teu beijo, teu olhar... Ah! Estão todos tatuados em minh'alma. Ninguém te arranca de mim, homem. Porque... Porque... Eu não sei. Porque eu não quero - talvez -. Você traz cor pra minha vida, Chico. Você ilumina até os meus dias mais escuros.

Você quer ser grande, eu só quero ser sua.
Você quer o céu, eu só quero seus beijos.
Você quer a mim, eu quero a você. Simples assim.

Não sei se daria certo. Você assim, eu assim. Bossa, samba, pagode... Rock! Não sei não... Você não toma jeito e eu não sei se te endireito. Só sei que te aceito, assim, exatamente do jeitinho que você é. Eu te aceito. Nem precisa me pôr uma aliança no dedo, eu te aceito do mesmo jeito. Te aceito com cheiro de cachaça, com olheiras, de mal humor... Eu te aceito, Chico. E te cuido. E te amo. Porque, Chico, eu me desmancho por você.

Vem, minha moça flor, eu te aboleto.





Seus pés são iguais aos do teu pai, os dedinhos de vocês não encostam no chão. Você fala dele com tanta paixão que eu choro tua dor como se fosse minha. Seu coração é cheio de emplastros feitos pelo tempo para que você pudesse enfim se acostumar ao vago de não ter o teu esteio ao teu lado. Uma coisa eu tenho que dizer, esteja onde estiver, ele sempre estará ao seu lado. E ornará teus cabelos com flores, e tua cabeceira com bons sonhos que lhe acompanhem noite a fora, e cuidará para que sua dor nunca seja superior a tua força. Teu pai, teu papai, sempre cuidará para que suas lágrimas nunca toquem o chão e colocará um anjinho aqui outro acolá, vezenquando, pra tornar essa caminhada mais leve.


Disse a você certa vez que no meu caminho de pedras, você foi uma roseira inteira. A roseira que eu fiz questão de cuidar, e dar água e arrancar os galhos secos. Você é a roseira que enfeita meu caminho, o milagre da vida que mostra que mesmo a rosa mais doce têm espinhos. Quando a chuva e o vento lhe afligiram, lhe coloquei sob a redoma. “Ela é sozinha, porém, mais importante que todas vós, pois foi ela que eu reguei. Foi ela que pus sob a redoma. Foi ela que abriguei com o para-vento. Foi por ela que matei as larvas (exceto duas ou três, por causa das borboletas). Foi ela que eu escutei se queixar ou se gabar, ou mesmo calar-se algumas vezes, já que ela é a minha rosa.”, como disse Saint-Exupéry. Andando descalça num caminho de pedras, encontrei a roseira que trepava dentre os pedregulho da estrada. Delas todas você era a mais bonita, a que me saltava aos olhos. Quando veio o vento e a chuva, e eu não pude mais defender a roseira, te aboletei, pus sob a redoma e levei comigo. Ninguém te faria mal e meu amor não te deixaria murchar jamais. Porque eu te amo e te cuido. E para sempre será assim. Meus pés sangram de tanto andar no caminho de pedras, mas no fim, minha doce rosa, todas estas coisas serão recompensadas.


Mesmo sendo rosa, teus pés que são como os do teu amado e saudoso pai, dançam por aí e espalham a tua paz e a tua tormenta. Tua dança é a tua cura. E as chagas do teu coração não precisam de emplastro, querida. Para as chagas do coração a cura é o amor. E deixa que o meu há de preencher todas elas. Não vai sobrar fissura, ranhura ou o que quer que for. Eu te aboleto no meu seio e sinto a tua dor. Eu tomo as tuas chagas para mim e o meu amor te dará o escape. Porque eu te amo e te cuido, assim, exatamente do jeito que você é.


Onde quer que ele esteja, está feliz por quem você se tornou e com os pés iguais aos teus ele senta à tua cabeceira todas as noites pra velar o teu sono e te trazer o consolo. A dor não é maior que o teu peito, e teu pai, ornando os cabelos teus com belas rosas sorri ao ver que você sempre terá um lugar para que voltar. O meu coração.


Deixe-me dançar tua dança, sorrir o teu sorriso, chorar o teu pranto. Vem, minha moça flor, eu te aboleto. E te cuido. E te amo. Para sempre.

quinta-feira, 1 de março de 2012



Fragmentos do nosso dia-a-dia.


Faz dos meus braços tua morada, vem, eu te aboleto aqui no meu seio. Ponha tuas raízes em mim e se fixe na minha vida. Inventaremos o resto juntos e por enquanto, só prometa vir como for. Venha. Não tarda, não aguarda. Não mais.

Quero explodir em palavras o que minha boca já não é capaz de lhe dizer. Sempre que aquieto me perco dentro destes meus pensamentos tão meus, então rogo-te: venha cá me salvar! Anotei meu endereço nos traços curvilíneos do teu corpo esperando que logo viesse, então embale-se e venha. Deixe-me sentir teu calor, teu fervor, teu cheiro. Deixe-me buscar em tuas rotas o caminho da tua boca e beijá-la n’um encontro de lábios fogosos e cheios de desejo. Deixe-me por rosas nos teus cabelos e depois arrancá-las junto das tuas roupas. Acorde ao meu lado, amor, recostado no meu seio terno que queima de amor por ti. Fica, fica em mim.

Restou o quê?


Restaram as rosas esmaltadas, as pétalas mortificadas e as histórias não contadas. Restaram as falsas verdades e as mentiras sinceras, os sentimentos puros e os pecaminosos. Restou o vazio, o impreciso, o vago. Restou o estrago do que um dia foi encanto, da magia que formava a redoma que protegia nós dois.

Restou-me ser só e desacompanhado, restaram-me os cacos, os restos, o lixo. O sumo, a podridão, a solidão e a ideia de viver sem ti.

domingo, 19 de fevereiro de 2012


E pelo seu perdão me tornei estrela.


Os dias sucedem-se com o vago espaço que ficou entre nós e de repente, eu. Tua falta me rasga, mulher! A música que ecoa nessa alma oca é o teu choro baixinho, e aquele teu perfume floral ainda assola esse coração mascarado. Sinto repúdio, mulher. Sinto repúdio da imagem que reflete no espelho. Desonra este amante solitário suas ações egoístas. E ainda parte. Praticamente despedaça ao meio a metade que me restou ser. Sou resto agora. Nem cacos mereço ser, mulher. Nem cacos!

Couberam a mim os farrapos, os trapos, os panos de saco. Couberam a mim as migalhas, a lavagem. Coube a mim tudo aquilo que quis: o sumo do sumo do resto da podridão em que me meti: a desonra de trair-lhe. Caí em pecado e agora estou a pagar pelo mal que lhe fiz — será que este é o inferno? Isto é o fim? —. Merecedor, eu sou! Urge a dor, urge o tempo, urge a lembranças das lágrimas que te fiz derramar.

Oh mulher, ser abençoado e protegido de Vossa Divindade, tenha dó desse amante torto. Mesmo não sendo eu merecedor, tombe-se a sentir piedade por esse ser humilhado e jogado as traças. Lembre-se que já fomos juntos amor e amantes, lembre-se do vinho e das rosas. Lembre-se de nossos corpos se unindo e se consumindo em paixão. LEMBRE-SE! (Em letras maiúsculas). Arranque-me desta prisão de me ser ou me mate de uma vez.

E no fenecer deste nosso amor manchado ei eu de dizer ainda:
“— Puis je suis devenu star par le votre pardon.” (E pelo seu perdão me tornei estrela).

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Libertando-me de mim...


“Pai do céu, dê-me as palavras certas para esvaziar o amargor do meu coração. Amém.”

Tenho estado exânime e quase que tropeço em minhas próprias amarras amargas. Estando à orla do mar, não o piso, algo me toma com força contrária e me leva — quase que arrasta — para longe e faz parecer que é miragem a vista que sei que tenho ali, exatamente ali, a menos de três passos de mim. Percebi então que das dúvidas que tenho a maior sou eu mesma.

Fui ao meu enterro. E no fenecer de todas aquelas lágrimas com toda a antítese que esse momento possa possuir, digo enfim: nunca me senti tão viva. Saí rindo alto, gargalhando dos pobres coitados.

As amarras foram cortadas, as correntes quebradas. Minha única prisão era meu próprio corpo. O inolvidável que se tenha sobre mim são as lembranças que continuarão de bom grado vivas, junto de meu ser imortal: minh'alma.

“Aferravam-me dentro de uma entrave sorridente, mas com efusão disse e repeti: sou livre. Livre, livre, livre.”

Queria ser a lira do É ela! É ela! É ela! É ela!


“É ela! É ela! — Murmurou tremendo,
E o eco ao longe murmurou — é ela!
Eu a vi minha fada aérea e pura —
A minha lavadeira na janela!” 
(Álvares de Azevedo, in É ela! É ela! É ela! É ela!, cit., p. 44.)

Confiemos que seja ela como Álvares disse e não posso evitar imaginá-la com lascividade. Como a menina dos olhos. Uma virgem intocada, uma moça quase emaculada. Envolvida pelos olhos do atencioso amante, protegida, guardada numa redoma de possibilidades e condões. Parecendo ser perfeita. Ó céus!, e será que era? será que existia? — quem é que sabe, afinal?
Com eflúvio era sendo e foi sendo, por mais que soe estranho foi assim e será sempre assim porque sua história já foi escrita. Se existiu essa moça só posso dizer teve sorte, mas deve-se levar em conta que todo poeta tende um pouco à loucura, então, por um relapso de tempo imaginemos que ela seja fruto da imaginação de um homem com muito amor para dar e muito papel para escrever, sem tempo para sair e conhecer o Mundo além das bebedeiras.
Todo ditoso, todo prosa, o poeta fez história amando a moça cândida que carregava nas lembranças do que não viveu. E almejo quase de forma maviosa e leve ser amada tanto quanto ela foi e descrita com tamanho estro de um sentimento não-descrito nem falado, só guardado no estio do olhar d’um poeta.
Fulgure então o porvir e que me faças tua e então ser ela, asinha! asinha!"

sábado, 11 de fevereiro de 2012


E a resposta a Ele…


Sempre que você não está por perto eu sinto medo e me sinto insegura e com isso deixo que coisas ruins aconteçam a mim. Entenda, isso não é algo que nós possamos controlar, é só que… Toda a minha força está em você. Na maioria dessas vezes eu fico chateada com você, magoada por motivos completamente descartáveis. Por coisas bobas, mas coisas bobas que me magoam. No momento elas parecem ser grandiosas, mas depois eu olho e vejo que eram apenas pequenas bobagenzinhas. Eu digo que está tudo bem porquê por mais que não esteja, eu não quero te preocupar. E quando você diz que me ama, eu desligo porquê não quero que você ouça enquanto eu choro.

Eu sei sim o quanto isso machuca e acredite, isso fere mais a mim do que a você. Eu queria poder lhe explicar todos os meus motivos, mas me parece muito mais fácil apenas dizer que está tudo bem. Eu não consigo mentir pra você. Não consigo disfarçar o amargor da minha voz, não consigo porque sei que você é parte de mim e não dá pra mentir para si mesmo. Não se sinta culpado, a culpa não é sua. Nunca foi e provavelmente, nunca será. Eu não sei de quem é “essa culpa”, talvez seja em grande parte, minha. Ou talvez seja completamente minha. Ninguém consegue me manter tranquila, porque dentro de mim existem mil demônios inquietos, mas acredite, você faz o melhor que alguém poderia fazer, por mim. Você me faz feliz apesar de todos os meus problemas. Eu não preciso que você esteja ao meu lado para que consiga sentir você comigo. Complexo, né? Deixe-me explicar. Nós nos tornamos um só, não sei desde quando, só sei que não me imagino mais sem você. Entendeu? Você é tudo pra mim e pra isso, nem precisa estar todos os dias ao meu lado. Não te prometo que sempre direi o motivo pelo qual estou chateada, mas farei de tudo para não ficar mais. Minha alma é cortada a cada vez que tenho que dizer a frase “está tudo bem”, meu coração fica bem pequenininho, mas eu sei que tenho que continuar. E eu continuo porquê não quero dividir com você a angustia horrível que sinto. Eu perco noites de sono pensando em você e no quanto te machuco fazendo isso. Isso me fere profundamente e então eu choro, choro um choro tão dolorido que faz parecer que as lágrimas são de sangue. E logo adormeço em meio as minhas lágrimas e tudo o que eu consigo fazer além de chorar é pedir a Deus que embale seu sono, te dê bons sonhos e não deixe que você sofra. Sabe amor, eu queria que fosse diferente mas a verdade é que ninguém pode me proteger de mim mesma. Eu sou a responsável pela minha lenta auto-destruição. Eu queria poder te dizer os motivos pelos quais estou quase sempre tão triste, mas são motivos ocultos até pra mim mesma. Eu me acomodei a essa situação e o meu passado está impregnado em mim. E é isso que muitas vezes me faz sentir tanta tristeza. E sabe, eu evito falar porque fico chateada com você às vezes porquê acho completamente desnecessário ficarmos discutindo por motivos tão fúteis. Eu te amo muito, meu dengo. Amo tanto que é como se cada parte do meu corpo chamasse pelo teu nome. Eu preciso do seu sorriso pra me sentir feliz e o som da sua risada é como liberdade à minha alma cativa. É um amor intenso, avassalador e simultaneamente, puro. Cada palavra, cada discussão, cada plano, cada dificuldade, cada mínimo detalhe é o que me faz querer levantar da cama todos os dias e sorrir. Sorrir pra vida e irradiar à vista de todos esse amor que me inebria.

Ah meu amor, cada barreira que já transpomos é um motivo para continuarmos sempre a lutar e a sonhar cada vez mais e mais. Acredite, não vamos desistir porquê o amor verdadeiro tudo pode, tudo crê, tudo suporta.

Talvez eu seja um mistério, um enigma quase indecifrável. Ou talvez eu seja apenas uma menina que está aprendendo a amar e está com medo, mas está acima de tudo, tentando superá-lo. E você, meu amor… Meu bem mais precioso. Tão incrível, carinhoso, apaixonante, lindo, inteligente, terrivelmente encantador… Tão cheio de planos, cheio de alegria de viver, tão paciente e tão cheio de amor. Você não existia nem nos meus melhores sonhos e agora, nem parece ser real de tão perfeito que é. Eu tenho muito o que agradecer à Deus mas ainda sim vou insistir em continuar pedindo à Ele para nunca lhe desamparar. Para conservar seu sorriso tão lindo, seu olhar tão sincero, para te proteger de todo e qualquer perigo e para te dar forças para conquistar todos os seus sonhos e viver eternamente ao seu lado.

Uma das cartas que meu amor escreveu-me...


Sempre que eu não posso estar perto de você é que as piores coisas acontecem, eu queria entender isso, eu queria poder mudar isso, eu queria saber o porque de sempre que essas coisas acontecem, você fica chateada e me liga pra ficar calada, dizendo que tá tudo bem no tom mais amargurado do mundo, e eu sem entender muito, só insisto pra saber o que aconteceu, mas você diz que nada aconteceu, eu digo, eu te amo, e você desliga.

Você não sabe o quanto isso machuca, isso é de um amargor intenso, me dá vontade de chorar, eu não consigo dormir direito e dói mais ainda, porque eu me sinto culpado, culpado de tudo que você passa, culpado de não ser capaz de te manter tranquila sempre, me perdoa se eu não consigo estar sempre do seu lado, só não fique chateada comigo sem me dizer o porquê. Eu me sinto como se estivesse morrendo. Meu coração aperta, surge uma angustia intensa e perco a vontade e o animo pra qualquer coisa, não consigo dormir, não consigo pensar, não consigo fazer nada, me sinto derrotado e nem sei porque. Eu te amo de uma forma muito intensa e a cada dia aumenta mais e mais, eu não consigo pensar em seguir minha vida sem você. Eu queria poder te proteger de tudo o que acontece de ruim, mas sempre que não posso estar com você, você passa as piores coisas que o destino pode reservar. Você nunca me conta o porquê de estar tão triste, e tudo que mais quero é poder te animar, você se chateia comigo por motivos que eu não faço ideia do porque, mas eu tento saber porque e você só evita de falar e continua amargurada. Isso machuca, mas eu sempre lembro de todos os bons momentos que passamos e de todas as alegrias, de todas as brincadeiras e de todas as discussões, desde a mais séria até a mais boba, e então lembro, que passamos por tanta coisa, e que se desistíssemos por tão pouco, não seriamos quem somos e não sentiríamos o que sentimos um pelo outro. Eu encho o peito de boas palavras e esperanças e tento te acalmar, tento encontrar a resposta desse enigma quase que indecifrável que é você, tão envolvente, inteligente, carinhosa, linda, decidida, tão perfeita. Embora amargurado, vejo além da tempestade que passa, e sempre vejo um lindo arco-íris no ao léu, e por mais distante que esteja, vou ir muito além dos meus limites, além das minhas forças, mas vou tentar alcançá-lo de todas as formas possíveis, independente do obstáculo que se encontra a frente, afinal, o maior deles já foi quebrado, a partir de agora, só vou estar aqui para poder te fazer feliz, e continuar pedindo a Deus todos os dias para te proteger e dar saúde, pra tornar nossa jornada próspera e rezo para você aguentar tudo o que passar até lá, afinal, nada pode nos separar.

Mamãe.

Protegendo a vida com sua própria vida e remediando os temores com a quietude de seu ventre; 
suportando danças, sapateados, chutes; 
almejando sorrisos, abraços, beijocas, chorinhos. 
Tão teu, tão meu, tão nosso. Criado, procriado, feito de amor. Do embrião ao feto que virou bebê e logo depois, ó aí ó: nos seus braços fazendo biquinho e cara de choro. Te olhando tristonho com olhos de um profundo cor-de-ameixa, pedindo socorro. Pedindo comidinha, mamãe! Ó céus. Atenda logo, ligeiro! Passaram-se os nove meses de embalo, agora é vida, mamãe. Isso amedronta, ó deus!, eu sei, mas é preciso continuar. Porque uma coisa é verdade: sempre vais carregar o coração dele dentro do seu coração. Amém.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012



Em seus vinte e poucos anos com suas curvas voluptuosas só pensava numa coisa: casar-se. Amor-sim-ou-não, não importava. Importava não ser mais uma no mercado de solteiras, mais uma a esperar um telefonema pela madrugada, um sms, um recado dizendo: ei, não sumi ainda! Amélia - seu nome quase sugestivo - dizia-nos o qual era sua maior pretensão: ser dona de casa.
— Louca, louca! — Exclamava uma feminista popular do século.
— Louca é a mulher que pensa que pode ser feliz sozinha! Unf. — Respondia ela com satisfação.

Todo mundo um dia tem que sofrer de amor.


Chico viveu longos e invejáveis noventa e três anos e pediu para que antes de deixar sua lição valiosa aos mais novos, contasse um pouco de suas peripécias e seus pecados.
Chico, Seu Chico, Velho pai… Esse homem tinha muitos nomes! Ah. E muitas facetas. Foi estudante de medicina! Medicina, moleque, veja só. Se já não é pra qualquer um atualmente que dirá naquela época de mil novecentos e antigamente… Fez três anos e logo se cansou, tá aí um dos piores defeitos do velho: o medo de ser grande. Mas foi, mesmo não sabendo. Foi sendo, sendo grande. Depois de largar da faculdade foi marceneiro, pedreiro e até dono de mercearia. E então amou. Quase chegando ao quarenta - tardiamente, eu diria… - descobriu o tal amor. Helena das Rosas foi uma moça que ele conheceu no parque num de seus quase ridículos rituais de tomar sorvete de casquinha às quatro. Das Rosas não era sobrenome, era apelido que Seu Chico tratou de dar por causa da incrível semelhança entre Helena e as tais tão delicadas rosas cor-de-chá. 
Sucederam-se dias de digna brilhantina. Bailes, noitadas e muitas flores. Logo compraram um apartamento que tinha um baita varandão e até que foram felizes. Daí ela engravidou. Mas como assim engravidar? Deus! Havia tantas coisas a experimentar… Tantas músicas a ouvir, tantos lugares a ir e bocas a beijar. E agora? Hein?! O que fazer? Até que o velho safado pretendia sugerir o tal aborto, mas quando se tocou no assunto a ilustre Dona Helena pôs o quase velho Chico pra fora sem pensar duas vezes. Para ele o único erro sem correção era o casamento e por mais que amasse Helena, não cometeria o erro de seus pais: fadar-se a um sofrimento evitável. 
Resumo: amava, mas não casou-se. Ideia fixa, sem direito a discussão. Pegou suas coisas e sumiu no Mundo. Foi à bela Paris, conheceu Suzette, fez amor como um louco degenerado e quando o Sol raiou, foi-se. Partiu da cama da que não era nenhuma dama, mas sim, era francesa. Vezenquando ele até pensava na pinta que ela tinha no canto da boca, no sorriso de batom vermelho e os seios fartos, mas não havia de ser nenhum sentimento. Apenas promiscuidade. Foi à Roma porque tinha boca e uma conta bancária recheada, sucessivamente foi à Londres, à Argentina, à Madri, Nova Iorque e retornou à Rua Nascimento Silva, número cujo o qual não consigo recordar-me agora, onde ainda possuía um belíssimo apartamento que herdou dos pais. Instalou-se, olhou pela janela que praticamente o engolia e sentiu falta de ter alguém para quem voltar.
Conheceu Suzette, Annelise, Aimée, Joane, Carolina e nunca esqueceu-se de Helena. Nenhuma foi como ela e a nenhuma tocou como costumava tocar nela. Chico foi um velho que levou a vida na brincadeira e deu significado à malandragem. Ia à praia, visitava Museus e finalmente voltava ao jardim onde conheceu Helena: O botânico. Tudo lembrava ela, até - de uma forma boa - as árvores milenares plantadas ali. E sentiu falta das rosas. Desde que a abandonou, passaram-se longos e bem vividos dezessete anos. E então num dia primaverino resolveu procurá-la e saber do tal filho que quando soube ainda era “feto-nada-desenvolvido” - como disse justificando-se à Helena na saída -.
Foi lá e acertou. Ainda continuava a morar no apartamento que chamavam de “deles”. Lembro-me dele falar que tocou a campainha e um moço bonito, de quase vinte anos atendeu. Pensou logo o pior: Helena arranjou um namorado melhor e mais jovem que desse a ela o amor e carinho que merecia. Mas mesmo assim insistiu, perguntando:
_Helena está?
_Boas tardes ao senhor também! Está a repousar.
_Pois bem. Eu espero.
Foi empurrando a porta e sentando no sofá… E é claro, ela não estava repousando. Estava logo ali, sentada a beira da sacada, olhando o mar. Empurrou o menino e gritou:
_Helena!
Olhou para trás e sei que me reconhecia, mas eu não sabia mais quem ela era. Só via rancor. A aparência de rosa a deixou ou no mais, foi abandonada. Deixada de lado. Perdeu o controle e só fazia chorar. E chorou. Chorou, chorou e chorou. Sei dizer que eles se abraçaram e ela possivelmente o perdoou, mas entre eles nada mais houve. Apresentou-me então Dona Helena assim:
_Aqui, Francisco. Este aí é o nosso filho.
Fiquei pasmo. Raiva, dor, curiosidade. E saudade! Eu nutria uma saudade dele que era quase descomunal… As palavras certas tive a dizer:
_Eis aqui o feto-nada-desenvolvido que abandonastes sem pudor. Viveu? Não, não tenho dúvidas. E matou também. Matou toda a felicidade de uma moça inocente. Desprazer em te conhecer, Seu Chico!
Minha mãe ficou pálida. Óbvio que agora o velho Chico sabia quem eu era e sabia também que ela não havia retido a história dolorida a suas meras lembranças. Ele pediu licença e saiu ligeiro. As lágrimas dele pareciam doloridas e verdadeiras, mas não me importavam naquela hora. Nunca mais o vimos até que um dia recebi um pedido para que fosse visitá-lo as pressas pois o velho estava à beira da morte… Quase arrependido, fui.
No leito de morte, aprendi a maior de todas as lições. Ele pediu para que eu ficasse quieto e disse sem piscar:
_Amei de verdade a senhora-sua-mãe, amei com um amor maior que eu. Um amor que não soube administrar. Perdoe-me pelos erros. Por favor, ceda-me o perdão para que eu possa ir para o céu. Dizem que lá é bom e não quero sofrer depois da vida. Oh não! E tome como a única lição que este velho safado vai te ensinar: “todo mundo um dia tem que sofrer de amor.” É isso mesmo. Ninguém está isento. Mas interprete certo o que eu disse: todo mundo um dia tem que sofrer de amor e não por amor, porque por amor a gente sofre todos os dias, mas pra sofrer por ele é preciso nutrir-lo, criá-lo, encontrá-lo. Não precisa buscar incessantemente por amor, ele te encontra. Só não o deixe ir embora, menino. Avise a dona Helena que vivi tudo o que tinha direito e nunca fiz amor como fiz com ela. 
E em seu último suspiro, repetiu:
“Todo mundo um dia tem que sofrer de amor e não por amor, porque por amor a gente sofre todos os dias, mas pra sofrer por ele é preciso nutrir-lo, criá-lo, encontrá-lo.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Prisioneira de mim mesma, arranquei as rosas do cabelo e rasguei as roupas de seda. Os trapos me cabiam melhor.


Se fosse noite ou dia, eu não via. Se a dor doía, eu não sentia.Se fosse você ou outro, eu não sabia.Eu ia, só seguia.Não sabia quem era nem pra onde iria, só ia…Repito: só ia.
Fomos felizes durante muito tempo e se der, quero dizer se o tempo permitir, contarei nossa história. Se não permitir, me aquieto na metade. É, é isso.
Nos conhecemos na primavera e conversamos até o verão, os beijos acalorados vieram para aquecer o inverno e na outra primavera eu já amava sozinha. Sucedeu-se que foi tudo uma ventania, bem rápido e intenso. Nosso amor era rosa, é rosa, foi rosa. Belo, delicado e cortante. Chego a me perguntar: será que passou? Será que acabou? Mas meu coração sussurra baixinho… “amor não acaba”. Quiçá seja uma fase, então. Tomara.
Valsamos na praia de Copacabana à meia-noite de um sábado e hoje vago, prisioneira de mim mesma, em Paris. Os ventos confundem meus pensamentos junto de meus cabelos. Vim ser feliz em Paris. Arranquei as rosas que ele pôs no meu cabelo e os espinhos que martelou no meu coração, rasguei a seda e vesti trapos. Atravessei o oceano pra tentar esquecer meu coração num outro continente, mas o que ficou foi a minha mente. Só penso nele, é só dele que quero saber. 
O rádio toca nossa música e a Torre Eifell é a amiga mais próxima que tenho. Minhas lágrimas tocam o chão e se ele sente minha falta, não sei dizer. Mas eu sinto a dele. E meus pés, em especial, sentem falta dos pés dele.
Meu coração tá chorando, meu amor. Acuda! Liberte-me de mim mesma, me socorra deste sequestro que arquitetei, pague o resgate. O resgate é de um preço inestimável, espero que possa pagar.
Pague o resgate que é um beijo teu e venha me buscar. Valse comigo a beira do Rio Sena; perdoe-me e cubra-me com teu amor. Rasgue meus trapos e tenha-me tua, nua. Tenha-me. 
Deixe-me ver a beleza desse nosso amor rosa. E não me deixe ir outra vez. Rogo-te.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012


Quebrou, quebrou e partiu.



João-não-sei-das-quantas quebrou seu coração. José. Sem rosto, nem sobrenome. De endereço duvidoso, sem passado. Apenas uma coisa sobre ele era certa: ela seria seu presente. E do futuro, ele deixou pra pensar mais lá na frente… Quando fosse iminente. Maria, de sobrenome Sem Alegria. Coração partido, bolsões abaixo dos olhos. Um chamado saudade e o outro, decepção. Metanfetamina sacudiria até sua alma. Mas só um homem de verdade curaria seu coração. José. Sem rosto, nem sobrenome. José. Sem passado, de futuro incerto. José. Que estava servindo de “tapa-buraco”, estava servindo somente para curar feridas antigas. Mas não sabia disso, então, até se sentia feliz…

Quinze, dezesseis, dezessete e nada de vida.

“Difícil dizer que “viveu” quando aos quinze anos, já havia escolhido alguém para amar pela vida inteira. E difícil também é acreditar em divindades, quando aos dezesseis, já se perdeu quase tudo. Menos a vida. Difícil também é ver a vida sem o cor-de-rosa, sem olhar para a ponta do próprio nariz… Daí fica torto, sem sentido. Fica como realmente é. Sem cor, nem graça. Difícil ter quase dezessete e já ver a vida como se tivesse noventa. Sob perdas e constantes partidas a vida fica mais amarga. A dor ensina mas também esfria. E, a dor molda. Molda quem somos, quem iremos ser. Não há porque ficar procurando uma felicidade momentânea se é a dor quem dá as lições que precisamos para “sobreviver”. Viver aos dezessete, não é fácil. Respirando, sobrevivendo, continuando. A idade não define a maturidade. E talvez, nunca tenha definido. Mas, permita-me lhe confessar que difícil também é continuar acordando todos os dias mesmo quando não se quer mais nem viver, que dirá tampouco, sobreviver.”

Francisco chamou meu nome...

 Uma, duas. Talvez, três vezes. Eu precisava ir embora, seguir em frente. E atrás de mim estava o amor da minha vida. Talvez o primeiro ou como eu tinha - quase - certeza, o único. Inevitavelmente, eu precisava ir. Eu seria capaz de fazer mal a mim, mas não a ele. Justamente a única pessoa que me fez bem e que olhou para mim e, surpreendentemente, me enxergou. Da forma que eu sou. Com todos os erros, os defeitos. E as qualidades. Porque sim, eu possuo qualidades. Não sou nenhuma vilã, oh céus!. Só quero ser feliz, isso é pecado? Se for, serei condenada ao inferno. O que não é nada demais. Um outro inferno depois deste. […] Por que é tão fácil estar perto de você e tão difícil conseguir ficar com você? Eu quero Francisco; comigo. Para sempre. Ou pelo menos, enquanto pudermos fazer um ao outro feliz. […] Não tenho termos confusos para decepção. Eu errei, sim. Eu sei. Eu sou torta, tenho defeitos, tenho medo de altura e não sei andar de bicicleta. Sou frágil e tão simples quanto se pode ver. Mas disso tudo, ele já sabia. E mesmo assim lutou por mim e me amou, como ninguém mais fez. E por tudo isso, eu precisava deixá-lo ir. Pelo meu amor, meu cuidado e meu carinho com ele. Eu só queria vê-lo feliz. […] Ao mesmo tempo que tentava deixá-lo partir, meu coração insano me dizia que sem ele eu não conseguiria seguir em frente. Meu destino era ele, irremediavelmente. Eu tinha certeza disso. Não importa quantos rumos errados eu tomasse ou quantas decisões insanas eu tivesse e mesmo que entregasse meu coração a outro; Francisco sempre seria meu destino. Destino não é algo que de certo, vá acontecer. Não, isso não existe. Nada na vida segue um plano, é tudo construção. São tijolos sobre tijolos que você coloca no lugar certo ou não. E seja como quer que fosse, eu sempre o amaria. Todos esses sentimentos me afligindo tão facilmente e eu, mortificada. Inerte. Não sabia se ía ou vinha. Ou, até mesmo, se ficava ali, parada. Então, resolvi. Valsei a dança dos ventos, vesti a pluma e fui leve, fui sonho. […] Sonhei.

Como quer que fosse eu decidi não ser uma vítima de mim. Em vez de deixá-lo ir sem ter a certeza se ele voltaria, eu preferi ir junto dele construir a nossa felicidade atemporal. Sem prazo de validade.
— Francisco, Francisco! — Com ponto e vírgula, chamei desesperada.
— Helena, minha flor! — Respondeu assustado, atônito.
— Eu… Eu… — Não conseguia falar.
— Não precisa. Eu sabia que não me deixaria ir. — Disse ele, enquanto envolvia seus braços em mim e me passava toda a segurança do Mundo.
— Como?
— Quem ama não deixa ir.
— Então…
— Foi por isso que você resolveu arriscar.
— O certo, o incerto. E finalmente, você.
— Sim.
— E ao nosso amor.
— Com toda certeza do Mundo, meu amor!
— Helena, nada tema! Quanto as dificuldades, te acalma… E-attraversiamo.

Querido Francisco,

Anseio por ver teus olhos, tocar tua pele, sentir teu beijo. Penso em ti o tempo todo e tenho certeza que só tú és a cura para o meu coração.

Andei muito tempo em engano, sofri por coisas banais e tomei tantos rumos errados que meus dedos são poucos, para enumerar. Parti meu coração. Sim, eu mesma o parti; o despedacei sem piedade de mim, entregando-o para um alguém com uma máscara que eu mesma havia criado. Sou culpada, insisto. E não nego.

Arrependo-me, Francisco querido. Há certas feridas que podemos evitar. Não há porque flagelar-se tanto assim por pura inquietação. O segredo da felicidade é a espera, sem mais. E só agora, tenho certeza.
Ah querido!, se eu tivesse aguardado por você as coisas teriam sido mais fáceis e talvez eu não tivesse me perdido tanto no caminho. Perdi muito tempo juntando meus pedaços e reconstruindo meu coração para ser quebrado outra vez.

Eu, de teimosa que sou, podia ter sofrido menos. Sim, eu podia. Mas ninguém ensina melhor que a dor. Não é? E eu cansei de ser forte, de fingir que estava bem e mentir até para mim mesma, dizendo que um dia ia dar certo. Foi desistindo, Francisco querido, que me deparei com você. Peguei os últimos cacos que restaram de mim e lhe entreguei. Você me juntou, me completou e me ensinou a continuar.

Você, Francisco querido, me ensinou a amar. E me mostrou que o amor é a cura para todos os males da alma. Aprendi a esperar. Por você, por nós, a sós. Para sempre. E mesmo longe, estou contigo, meu amado.

Portanto, te cuides, que quando puder cuidarei eu mesma.

                                                             Com mais amor que minhas palavras possam escrever,
da sua Helena.

Sabe o que quero lhe dizer? É que...

...as pessoas não morrem. Aliás, o que é morrer? As pessoas deixam de respirar, minha querida; parar de viver é opção. Sabe como é? Se eu tivesse de dizer o que é a morte diria que é a opção dos cheios de vida que não querem mais seguir em frente. Morrer é desistir, Querida.

E se?

E se os sorrisos morrerem, as promessas quebrarem, os corações chorarem e aquele amor que parecia infinito separar nossos caminhos? O que faremos? Disseram-me que amor demais acaba em tragédia. Romeu e Julieta nos provaram isso. Seus corpos caíram, suas almas partiram, suas vidas se esvairam… Mas o amor continuou vivo. Ultrapassou séculos e venceu as barreiras, mas matou e separou aqueles dois jovens que não puderam viver de amor.


Hoje não sei mais quem sou.


Sempre fui daquelas que na rosa, gosta mais do espinho. Sempre fui um furacão, já que nunca aceitei devastações incompletas. Sempre gostei do mais, do forte. E pra falar a verdade, o medo sempre me fascinou. Pra ser mais exata, a facilidade de lidar com ele. Porque, acima de tudo, sempre acreditei que o que torna uma pessoa corajosa não é a ausência de medo, mas sim, a capacidade de lidar com ele. Mas então, meu caro, como dizia… Sempre fui. Até lhe encontrar. Meio torta, bamba. Quase caindo. Cambaleando por esses caminhos tortos da vida, te encontrei rebelde. E, confesso que encantei-me com esse jeito de malandro. Como quem não quer nada e come pelas beiradas. Pode parecer um tanto quanto agressivo mas te achei “um pedaço de mal caminho” e então olhei pra vida e tratei de pedir “por favor”. Sonhar nunca foi comigo, sempre fui pessimista. Do tipo que acreditava que a luz do Sol só serve pra nos dizer que é dia e, nada mais. E imediatismo, também sempre foi um de meus nomes, se me permite… Acreditava em quase tudo que me diziam. E achava que era muito, quando na verdade, não era quase nada. Só sei dizer, meu caro, que hoje em dia, acredito em menos que nada. Deus, o diabo ou sei-lá-o-quê, nunca se interessaram por essa minha vida insossa. Confesso, novamente, que fazia pedidos um tanto quanto práticos a primeira divindade e, nunca cheguei a obter resposta. Mas repito sempre à mim mesma: “cada um sabe no que acredita”. Fé é um dom. Perdi o meu numa terça ou quarta-feira de agosto. Se bem me lembro. Mas então, meu caro, vi você. Que talvez nem se importe com a minha dor mas me faz pelo menos que por um tempo, parar de senti-la. Sua companhia. E as palavras incertas, que de concretas não tem nada, me inebriam. E me fazem escrever. A dor, a dor e a superação. Porque tudo na vida é passageiro, numa hora estamos vivos e na outra simplesmente paramos de respirar. Mas o que há de se fazer, não é, meu caro? Amamos as pessoas que vão. E as pessoas que se vão, são as que amavámos. Mas inevitavelmente, elas se vão. Sem pedir licença. Ou algo do tipo. Algumas mais precocemente, outras, depois de uma vida inteira de desvaneios. De qualquer forma, é preciso continuar. Até que enfim o elo ou ciclo, se quebre, e possamos partir para o paraíso. Porque, convenhamos, eu também não acredito nessas coisas mas, há de existir um algo a mais que essa medíocre vida, não é mesmo?

Até mais tarde…

Boa tarde, boa viagem, boa vida. Ou qualquer coisa que seja.


— São rosas em declínio. — Disse Helena.
— E o que seria isso?
— Pétalas de uma rosa desabrochando partidas…
— E é bom ou ruim?
— É parecido com um coração quebrado…

E certa vez eu disse à ela sem medir as palavras:
— ‘Cê é doce mas não é mole não!
E Helena, debochada como só ela, respondeu sem dó:
— ‘Sô rapadura não, oras!

Seus sentimentos estão mortos agora, Helena...


 ..Assim como também aconteceu aos meus. Seja bem vida ao inferno ou não-sentir, como anteriormente já havia lhe dito. A monotonia de acordar todos os dias e não saber o porquê é uma coisa deveras cansativa, Querida. Mas não, não precisa ter medo. Vou te explicar como funciona…

Começa de dentro pra fora e quando você dá por si, já está estampado em seu rosto: a dor. Isso não é o pior, não se assuste. É o começo. Do fim… Sentir é tudo, Helena. Uma respiração, um toque, um cheiro. Um pulsar. De um coração apaixonado chamando teu nome. Isso eu também já experimentei. E doeu, ah! A dor de sentir e depois perder é a pior de todas, Helena. Sabe, num dia você tem o Mundo em suas mãos. Você tem amor… E no outro, o que é que te resta? Só os restos e os cacos do que já foi e do que já viveu um dia… Um dia, Helena. No passado. Sobreviver de lembranças é desgastante e te mata aos poucos. Você está cometendo suicídio, Helena. E, eu irei junto à ti, minha pequena.

Alguns sofrimentos são inevitáveis, irremediáveis. Outros, a gente pode sim evitar. Mas é escolha, minha querida. É tudo escolha e consequência… A vida se trata disso. Infelizm… Ou não. A dor nos endurece, Helena. E esfria também. Sabes? Não se enterre. Não seja eu. Não, não… O pior é o “entregar-se” e depois, deixar… Deixar, abandonar. Enterrar… A vida. Morte em vida, Helena. Conheces? Estas prestes a experimentar, não se apresse. Não precisa. O amor é suicídio, Querida. Aprenda. Não há como amar sem sofrer e, não há como viver sem amar. Não há. É impossível.

Não se engane, nem se ludribie por pouco. O muito é que tem que roubar seus olhos.

E, não adianta criar muitos conceitos ou preferências. Tudo isso se perde num olhar, Helena. Ou, numa troca deles… O que for. O amor não é um jogo, não é uma troca. O amor não é perfeito, nem frágil. Como já lhe disse anteriormente, o amor é um Oficial reformado de milhares de anos que já venceu muitas guerras. Não baixe a guarda. Uma vez frágil, eternamente perdida.
E mais uma vez, não se engane. A dor não passa, ela apenas te ensina a passar. Passar sem ser notada pela vida, Querida. Existir não é o bastante e partir sem ser notada, tampouco. Lute. O fraco não é o perdedor mas sim, o que desiste. Não desista e, não lute em guerras perdidas. Não adianta lutar contra seu coração, Helena. Mas agora, já é tarde demais para eu lhe dizer isso, não é?

Só te peço como um último súplicio, Helena… Por favor, não se habitue ao não-sentir. Não caia no inferno. Não se renda ao comodismo de não-lutar. 


Deixa doer, deixa… Deixa gruir, ranger. Deixa partir. Deixa ir, deixa o coração chorar e só depois, ah sim!… deixa florir.