sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Prisioneira de mim mesma, arranquei as rosas do cabelo e rasguei as roupas de seda. Os trapos me cabiam melhor.


Se fosse noite ou dia, eu não via. Se a dor doía, eu não sentia.Se fosse você ou outro, eu não sabia.Eu ia, só seguia.Não sabia quem era nem pra onde iria, só ia…Repito: só ia.
Fomos felizes durante muito tempo e se der, quero dizer se o tempo permitir, contarei nossa história. Se não permitir, me aquieto na metade. É, é isso.
Nos conhecemos na primavera e conversamos até o verão, os beijos acalorados vieram para aquecer o inverno e na outra primavera eu já amava sozinha. Sucedeu-se que foi tudo uma ventania, bem rápido e intenso. Nosso amor era rosa, é rosa, foi rosa. Belo, delicado e cortante. Chego a me perguntar: será que passou? Será que acabou? Mas meu coração sussurra baixinho… “amor não acaba”. Quiçá seja uma fase, então. Tomara.
Valsamos na praia de Copacabana à meia-noite de um sábado e hoje vago, prisioneira de mim mesma, em Paris. Os ventos confundem meus pensamentos junto de meus cabelos. Vim ser feliz em Paris. Arranquei as rosas que ele pôs no meu cabelo e os espinhos que martelou no meu coração, rasguei a seda e vesti trapos. Atravessei o oceano pra tentar esquecer meu coração num outro continente, mas o que ficou foi a minha mente. Só penso nele, é só dele que quero saber. 
O rádio toca nossa música e a Torre Eifell é a amiga mais próxima que tenho. Minhas lágrimas tocam o chão e se ele sente minha falta, não sei dizer. Mas eu sinto a dele. E meus pés, em especial, sentem falta dos pés dele.
Meu coração tá chorando, meu amor. Acuda! Liberte-me de mim mesma, me socorra deste sequestro que arquitetei, pague o resgate. O resgate é de um preço inestimável, espero que possa pagar.
Pague o resgate que é um beijo teu e venha me buscar. Valse comigo a beira do Rio Sena; perdoe-me e cubra-me com teu amor. Rasgue meus trapos e tenha-me tua, nua. Tenha-me. 
Deixe-me ver a beleza desse nosso amor rosa. E não me deixe ir outra vez. Rogo-te.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012


Quebrou, quebrou e partiu.



João-não-sei-das-quantas quebrou seu coração. José. Sem rosto, nem sobrenome. De endereço duvidoso, sem passado. Apenas uma coisa sobre ele era certa: ela seria seu presente. E do futuro, ele deixou pra pensar mais lá na frente… Quando fosse iminente. Maria, de sobrenome Sem Alegria. Coração partido, bolsões abaixo dos olhos. Um chamado saudade e o outro, decepção. Metanfetamina sacudiria até sua alma. Mas só um homem de verdade curaria seu coração. José. Sem rosto, nem sobrenome. José. Sem passado, de futuro incerto. José. Que estava servindo de “tapa-buraco”, estava servindo somente para curar feridas antigas. Mas não sabia disso, então, até se sentia feliz…

Quinze, dezesseis, dezessete e nada de vida.

“Difícil dizer que “viveu” quando aos quinze anos, já havia escolhido alguém para amar pela vida inteira. E difícil também é acreditar em divindades, quando aos dezesseis, já se perdeu quase tudo. Menos a vida. Difícil também é ver a vida sem o cor-de-rosa, sem olhar para a ponta do próprio nariz… Daí fica torto, sem sentido. Fica como realmente é. Sem cor, nem graça. Difícil ter quase dezessete e já ver a vida como se tivesse noventa. Sob perdas e constantes partidas a vida fica mais amarga. A dor ensina mas também esfria. E, a dor molda. Molda quem somos, quem iremos ser. Não há porque ficar procurando uma felicidade momentânea se é a dor quem dá as lições que precisamos para “sobreviver”. Viver aos dezessete, não é fácil. Respirando, sobrevivendo, continuando. A idade não define a maturidade. E talvez, nunca tenha definido. Mas, permita-me lhe confessar que difícil também é continuar acordando todos os dias mesmo quando não se quer mais nem viver, que dirá tampouco, sobreviver.”

Francisco chamou meu nome...

 Uma, duas. Talvez, três vezes. Eu precisava ir embora, seguir em frente. E atrás de mim estava o amor da minha vida. Talvez o primeiro ou como eu tinha - quase - certeza, o único. Inevitavelmente, eu precisava ir. Eu seria capaz de fazer mal a mim, mas não a ele. Justamente a única pessoa que me fez bem e que olhou para mim e, surpreendentemente, me enxergou. Da forma que eu sou. Com todos os erros, os defeitos. E as qualidades. Porque sim, eu possuo qualidades. Não sou nenhuma vilã, oh céus!. Só quero ser feliz, isso é pecado? Se for, serei condenada ao inferno. O que não é nada demais. Um outro inferno depois deste. […] Por que é tão fácil estar perto de você e tão difícil conseguir ficar com você? Eu quero Francisco; comigo. Para sempre. Ou pelo menos, enquanto pudermos fazer um ao outro feliz. […] Não tenho termos confusos para decepção. Eu errei, sim. Eu sei. Eu sou torta, tenho defeitos, tenho medo de altura e não sei andar de bicicleta. Sou frágil e tão simples quanto se pode ver. Mas disso tudo, ele já sabia. E mesmo assim lutou por mim e me amou, como ninguém mais fez. E por tudo isso, eu precisava deixá-lo ir. Pelo meu amor, meu cuidado e meu carinho com ele. Eu só queria vê-lo feliz. […] Ao mesmo tempo que tentava deixá-lo partir, meu coração insano me dizia que sem ele eu não conseguiria seguir em frente. Meu destino era ele, irremediavelmente. Eu tinha certeza disso. Não importa quantos rumos errados eu tomasse ou quantas decisões insanas eu tivesse e mesmo que entregasse meu coração a outro; Francisco sempre seria meu destino. Destino não é algo que de certo, vá acontecer. Não, isso não existe. Nada na vida segue um plano, é tudo construção. São tijolos sobre tijolos que você coloca no lugar certo ou não. E seja como quer que fosse, eu sempre o amaria. Todos esses sentimentos me afligindo tão facilmente e eu, mortificada. Inerte. Não sabia se ía ou vinha. Ou, até mesmo, se ficava ali, parada. Então, resolvi. Valsei a dança dos ventos, vesti a pluma e fui leve, fui sonho. […] Sonhei.

Como quer que fosse eu decidi não ser uma vítima de mim. Em vez de deixá-lo ir sem ter a certeza se ele voltaria, eu preferi ir junto dele construir a nossa felicidade atemporal. Sem prazo de validade.
— Francisco, Francisco! — Com ponto e vírgula, chamei desesperada.
— Helena, minha flor! — Respondeu assustado, atônito.
— Eu… Eu… — Não conseguia falar.
— Não precisa. Eu sabia que não me deixaria ir. — Disse ele, enquanto envolvia seus braços em mim e me passava toda a segurança do Mundo.
— Como?
— Quem ama não deixa ir.
— Então…
— Foi por isso que você resolveu arriscar.
— O certo, o incerto. E finalmente, você.
— Sim.
— E ao nosso amor.
— Com toda certeza do Mundo, meu amor!
— Helena, nada tema! Quanto as dificuldades, te acalma… E-attraversiamo.

Querido Francisco,

Anseio por ver teus olhos, tocar tua pele, sentir teu beijo. Penso em ti o tempo todo e tenho certeza que só tú és a cura para o meu coração.

Andei muito tempo em engano, sofri por coisas banais e tomei tantos rumos errados que meus dedos são poucos, para enumerar. Parti meu coração. Sim, eu mesma o parti; o despedacei sem piedade de mim, entregando-o para um alguém com uma máscara que eu mesma havia criado. Sou culpada, insisto. E não nego.

Arrependo-me, Francisco querido. Há certas feridas que podemos evitar. Não há porque flagelar-se tanto assim por pura inquietação. O segredo da felicidade é a espera, sem mais. E só agora, tenho certeza.
Ah querido!, se eu tivesse aguardado por você as coisas teriam sido mais fáceis e talvez eu não tivesse me perdido tanto no caminho. Perdi muito tempo juntando meus pedaços e reconstruindo meu coração para ser quebrado outra vez.

Eu, de teimosa que sou, podia ter sofrido menos. Sim, eu podia. Mas ninguém ensina melhor que a dor. Não é? E eu cansei de ser forte, de fingir que estava bem e mentir até para mim mesma, dizendo que um dia ia dar certo. Foi desistindo, Francisco querido, que me deparei com você. Peguei os últimos cacos que restaram de mim e lhe entreguei. Você me juntou, me completou e me ensinou a continuar.

Você, Francisco querido, me ensinou a amar. E me mostrou que o amor é a cura para todos os males da alma. Aprendi a esperar. Por você, por nós, a sós. Para sempre. E mesmo longe, estou contigo, meu amado.

Portanto, te cuides, que quando puder cuidarei eu mesma.

                                                             Com mais amor que minhas palavras possam escrever,
da sua Helena.

Sabe o que quero lhe dizer? É que...

...as pessoas não morrem. Aliás, o que é morrer? As pessoas deixam de respirar, minha querida; parar de viver é opção. Sabe como é? Se eu tivesse de dizer o que é a morte diria que é a opção dos cheios de vida que não querem mais seguir em frente. Morrer é desistir, Querida.

E se?

E se os sorrisos morrerem, as promessas quebrarem, os corações chorarem e aquele amor que parecia infinito separar nossos caminhos? O que faremos? Disseram-me que amor demais acaba em tragédia. Romeu e Julieta nos provaram isso. Seus corpos caíram, suas almas partiram, suas vidas se esvairam… Mas o amor continuou vivo. Ultrapassou séculos e venceu as barreiras, mas matou e separou aqueles dois jovens que não puderam viver de amor.


Hoje não sei mais quem sou.


Sempre fui daquelas que na rosa, gosta mais do espinho. Sempre fui um furacão, já que nunca aceitei devastações incompletas. Sempre gostei do mais, do forte. E pra falar a verdade, o medo sempre me fascinou. Pra ser mais exata, a facilidade de lidar com ele. Porque, acima de tudo, sempre acreditei que o que torna uma pessoa corajosa não é a ausência de medo, mas sim, a capacidade de lidar com ele. Mas então, meu caro, como dizia… Sempre fui. Até lhe encontrar. Meio torta, bamba. Quase caindo. Cambaleando por esses caminhos tortos da vida, te encontrei rebelde. E, confesso que encantei-me com esse jeito de malandro. Como quem não quer nada e come pelas beiradas. Pode parecer um tanto quanto agressivo mas te achei “um pedaço de mal caminho” e então olhei pra vida e tratei de pedir “por favor”. Sonhar nunca foi comigo, sempre fui pessimista. Do tipo que acreditava que a luz do Sol só serve pra nos dizer que é dia e, nada mais. E imediatismo, também sempre foi um de meus nomes, se me permite… Acreditava em quase tudo que me diziam. E achava que era muito, quando na verdade, não era quase nada. Só sei dizer, meu caro, que hoje em dia, acredito em menos que nada. Deus, o diabo ou sei-lá-o-quê, nunca se interessaram por essa minha vida insossa. Confesso, novamente, que fazia pedidos um tanto quanto práticos a primeira divindade e, nunca cheguei a obter resposta. Mas repito sempre à mim mesma: “cada um sabe no que acredita”. Fé é um dom. Perdi o meu numa terça ou quarta-feira de agosto. Se bem me lembro. Mas então, meu caro, vi você. Que talvez nem se importe com a minha dor mas me faz pelo menos que por um tempo, parar de senti-la. Sua companhia. E as palavras incertas, que de concretas não tem nada, me inebriam. E me fazem escrever. A dor, a dor e a superação. Porque tudo na vida é passageiro, numa hora estamos vivos e na outra simplesmente paramos de respirar. Mas o que há de se fazer, não é, meu caro? Amamos as pessoas que vão. E as pessoas que se vão, são as que amavámos. Mas inevitavelmente, elas se vão. Sem pedir licença. Ou algo do tipo. Algumas mais precocemente, outras, depois de uma vida inteira de desvaneios. De qualquer forma, é preciso continuar. Até que enfim o elo ou ciclo, se quebre, e possamos partir para o paraíso. Porque, convenhamos, eu também não acredito nessas coisas mas, há de existir um algo a mais que essa medíocre vida, não é mesmo?

Até mais tarde…

Boa tarde, boa viagem, boa vida. Ou qualquer coisa que seja.


— São rosas em declínio. — Disse Helena.
— E o que seria isso?
— Pétalas de uma rosa desabrochando partidas…
— E é bom ou ruim?
— É parecido com um coração quebrado…

E certa vez eu disse à ela sem medir as palavras:
— ‘Cê é doce mas não é mole não!
E Helena, debochada como só ela, respondeu sem dó:
— ‘Sô rapadura não, oras!

Seus sentimentos estão mortos agora, Helena...


 ..Assim como também aconteceu aos meus. Seja bem vida ao inferno ou não-sentir, como anteriormente já havia lhe dito. A monotonia de acordar todos os dias e não saber o porquê é uma coisa deveras cansativa, Querida. Mas não, não precisa ter medo. Vou te explicar como funciona…

Começa de dentro pra fora e quando você dá por si, já está estampado em seu rosto: a dor. Isso não é o pior, não se assuste. É o começo. Do fim… Sentir é tudo, Helena. Uma respiração, um toque, um cheiro. Um pulsar. De um coração apaixonado chamando teu nome. Isso eu também já experimentei. E doeu, ah! A dor de sentir e depois perder é a pior de todas, Helena. Sabe, num dia você tem o Mundo em suas mãos. Você tem amor… E no outro, o que é que te resta? Só os restos e os cacos do que já foi e do que já viveu um dia… Um dia, Helena. No passado. Sobreviver de lembranças é desgastante e te mata aos poucos. Você está cometendo suicídio, Helena. E, eu irei junto à ti, minha pequena.

Alguns sofrimentos são inevitáveis, irremediáveis. Outros, a gente pode sim evitar. Mas é escolha, minha querida. É tudo escolha e consequência… A vida se trata disso. Infelizm… Ou não. A dor nos endurece, Helena. E esfria também. Sabes? Não se enterre. Não seja eu. Não, não… O pior é o “entregar-se” e depois, deixar… Deixar, abandonar. Enterrar… A vida. Morte em vida, Helena. Conheces? Estas prestes a experimentar, não se apresse. Não precisa. O amor é suicídio, Querida. Aprenda. Não há como amar sem sofrer e, não há como viver sem amar. Não há. É impossível.

Não se engane, nem se ludribie por pouco. O muito é que tem que roubar seus olhos.

E, não adianta criar muitos conceitos ou preferências. Tudo isso se perde num olhar, Helena. Ou, numa troca deles… O que for. O amor não é um jogo, não é uma troca. O amor não é perfeito, nem frágil. Como já lhe disse anteriormente, o amor é um Oficial reformado de milhares de anos que já venceu muitas guerras. Não baixe a guarda. Uma vez frágil, eternamente perdida.
E mais uma vez, não se engane. A dor não passa, ela apenas te ensina a passar. Passar sem ser notada pela vida, Querida. Existir não é o bastante e partir sem ser notada, tampouco. Lute. O fraco não é o perdedor mas sim, o que desiste. Não desista e, não lute em guerras perdidas. Não adianta lutar contra seu coração, Helena. Mas agora, já é tarde demais para eu lhe dizer isso, não é?

Só te peço como um último súplicio, Helena… Por favor, não se habitue ao não-sentir. Não caia no inferno. Não se renda ao comodismo de não-lutar. 


Deixa doer, deixa… Deixa gruir, ranger. Deixa partir. Deixa ir, deixa o coração chorar e só depois, ah sim!… deixa florir.


Havia uma dona moça que se ajeitava todo dia às 20h, ah!… havia. E a pobre da moça tinha uma puta expressão sofrida, oh dó! Se arrumava todo dia às 20h. Sem atrasar nenhum segundo. Havia uma moça, ah!… havia. A moça era branca-pálida e vestida sempre o mesmo vestido florido, dobrava sempre a mesma esquina e olhava sempre do mesmo jeito. Havia uma moça, meu deus!, que, por deus!… era sofrida, sentida, abatida e bonita por demais! Ó céus, nunca contemplei tamanha beleza novamente. E num dia perguntei a ela o porquê(s) de tanta repetição; perguntei sim. Assim: ‘de cara’. Perguntei a dona moça:

_Por que tanta pompa, tanto jeito, tanta repetição?

Olhou-me piedosamente e respondeu com o coração:
_Qualquer dia, seu moço, ah!… qualquer dia meu amado vem me buscar. Eu sei que vem.

Calei-me, virei-me e fui. Ela continuou a esperar, todos os dias, assim como outros milhões de pessoas também fazem - e eu sei que fazem -. Carregava de esperança o coração ver uma moça jovem e ‘creditada no amor. Dava fé, dava vontade de lutar… Seguir em frente. Sabes como é?

É que havia uma dona moça que se ajeitava todos os dias às 20h, ah!… havia.

Amor é poesia que não se pode ler.

‘Gradeço ao seu moço que roubou meu coração

… Porque sem ele eu não seria nada.



_Alô? Poderia prosear um bocado com o Chico?
E do outro lado da linha foi silêncio. Até que então ouço sua voz, sem mais explicações. Apenas ele, com seu jeito engraçado de falar e sua voz doce e encantadora…
_Dia, dona moça!
_Eu queria prosear um bocado com você sobre ‘nós’. Pode ser?
_Claro que pode, minha belle fleur! - Disse ele, puxando o R de forma cômica…
_Você é o descanso para os meus conturbados dias, é o ‘recostar-se’ no fim do dia. É o começo de tudo e o recomeço também. Você, meu querido, é alegria. Quando disco teu número as teclas parecem distantes e enquanto a ligação se encaminha até sua casa o tempo parece não passar. Tua voz me deixa de pernas bambas e seu sorriso quebra qualquer resistência, por mais boba que seja, que meu coração tenha em te amar. ‘Cê é paz, Chico. ‘Cê é luz e também aconchego. ‘Cê é o meu amor e estar ao teu lado é um evento inadiável agora…
_Mas, por que inadiável agora?
_Porque quem ama não pode esperar, seu moço.
_Então lhe amo.
_Por que?
_Conto as horas pra te ver e, Ó céus!, minutos parecem eternos. […]
Foi assim desde o princípio… foi amor. Sem mais nem menos. Nos amamos desde o primeiro olhar. E isso, ah!… é raro de se ver.

“E então que nosso tempo seja o ‘atemporal’ e a nossa felicidade, ‘infinitamente maior’ e nos transborde.”


Minha doce orquídea lilás,


como tens passado os dias? Sinto saudades de tua voz doce percorrendo este lugar vazio e aquela tua gargalhada deliciosa que costumava encher de vida esse canto sem cor. Perguntam-me vezenquando: o que houve com Helena? E eu, sem cor nem jeito, respondo:

_Foi ser feliz e ainda não voltou!

Minha pergunta é: quando voltas, Querida? Entreguei minha felicidade a Deus, colocando a tua em primeiro lugar. Em minha vida é assim, agora, Helena: primeiro você e depois você novamente. Aprendi a ser assim depois que se foi… Senti a falta do teu cheiro, do teus pés frios enroscados aos meus, das tuas rosas vermelhas na sacada da varanda… Sinto falta até de suas manias que nunca entendi…

Sua flor preferida, ah!… a orquídea. Daí a mania de te chamar de orquídea. As lilás lhe roubavam o olhar, e se mesclassem com branco, lhe arrancavam um sorriso espontâneo. As rosas enfeitavam nossas janelas e impregnavam o apartamento inteiro com aquele cheiro nostálgico de… eu não sei… talvez, quem sabe… amor. Amor e nostalgia só combinavam assim: com o cheiro das tuas mil rosas vermelhas. De rosas também foi teu buquê, aquele que usou em nosso casamento, lembra-se? Rosa-chá. Ou rosa-cor-de-chá. Tanto faz. Lembrou-me também as que tua mãe estava preparando para o teu velório… Velha maldita que planejava enterrar meu amor, Ó céus! ‘Cê tentou suicídio, Helena. Tentou, tentou… tentou sim. E foi por minha causa! Nosso amor, nossa paixão, nós… De repente virou eu e você. E por fim, só eu. Onde você está? Com quem tens andado? Isso tudo está me consumindo!

Pode ser que nem me ames mais, mas só você é paz. Você é redenção, meu amor. ‘Cê roubou meu coração com uma flechada só e depois correu tudo… Namoro, noivado, casamento e morte. Ou quase isso. Nosso amor quase lhe matou ou quem sabe, morreu primeiro e tu não aprendeu a viver sem. Destruí teus sonhos, Helena. Sim, eu sei que o fiz. Tornei torta e fosca tua visão do Mundo e sobre o amor só te sobrou cacos. Eu pensava onde foi que errei, mas agora pergunto-me: onde foi que não errei? Todos cometem pecados e Deus perdoa, mas será, Helena querida, que teu amor ainda me dará o escape e o perdão? Onde quer que estejas, não se preocupes em responder-me. Só fiques bem, minha orquídeazinha lilás.

“Em dois sóis te conquistei. Em cem, te perdi.”

Tardei a crescer, minha querida, mas meu amor não. Se cuides e plante rosas.


 Do teu, sempre teu, marido arrependido, Francisco.

Romeu tem que morrer.


Com sua pele esbranquiçada e seus olhos sonhadores roubou-me o coração e tratou de não devolver mais. Nem sob ameaça, tampouco intimação. Romeu tem que ser história. Tem que ser parte da minha história. Uma fração do que eternizou nesse peito adormecido.

Romeu tem que morrer e é só disso que sei. Depois que se foi, as rosas murcharam e o Sol se apagou. Estou morta, Romeu. Nada mais justo que morras também. Venha tomar o chá das três na terra onde o Sol não nasce, ele permanece sempre vivo. Aceso.
Romeu, você tem que morrer. Pois sem você não há vida. 

Romeu tem que morrer para que nosso amor seja a eternidade.

                               Romeu, Romeu, sua Julieta o espera…

Acuda ligeiro, Chico! Vou dar a luz.


Passaram-se quarenta e três semanas e nada. Já bufava desespero e nada. Nada, nada, nada. Nadica-de-nada. A criança que era de sexo feminino anunciava que seria uma bela jogadora de futebol ou no mínimo, baladeira. E eu sorria ainda. Os sapatos não cabiam nos pés e quando me olhava no espelho via praticamente um daqueles garrafões d’água de cinco litros. Retia todo o líquido que era possível e ‘esvaziava’ a cada dois minutos e meio. Meu marido, Seu Francisco, ria disso e daquilo. Ria de tudo. O coitado até que era bonzinho comigo, contando o tanto que eu estava me acostumando a repeli-lo… Eu ria, chorava, ria de novo e sentia uma fome, Ó céus! Sem ponto nem vírgula: eu era um elefante. Ou muito me assemelhava a um. Nossas outras crianças pareciam anjos a noite. Acho que sabiam direitinho a hora de fechar a matraca e aquietar o facho. Ou me temiam. O que era bem mais provável… Minhas mudanças de humor eram tão constantes que meu doutor disse:

_Oh mulher, ‘cê vai ter uma síncope antes de ter um filho!

Pro’cê ver a gravidade do negócio… E apesar de tudo isso, eu sentia um amor descomunal por aquele serzinho que já rendia quase quarenta e quatro semanas dentro de mim. Perdi o controle de uma vez numa tarde de quinta-feira. Mandei meu marido Chico ir pro quinto dos infernos quando ele me mandou ter calma e saí chutando tudo. Meus calcanhares estavam por me matar e ninguém entendia. Meus outros dois filhos até que eram amáveis, me faziam caricias e queriam ficar beijando minha barriga o tempo todo. Daí perdi a paciência! Era um puta saco ficar aguentando aqueles beijos lambidos na barriga justo num calor de quase quarenta graus, então fugi de todos. Corri o mais depressa que pude (e acreditem, isso era mais lento que uma tartaruga) para dentro do banheiro e passei a chave na porta. Se ali não era o céu, por deus, era algo bem perto disto… Relaxei, liguei a vitrola que por lá tinha e comecei a cantar Elis…

Eu sei que vou te amar, por toda a minha vida eu vou te amar…

Daí as lágrimas começaram a jorrar por minha face de forma involuntária, doía o peito, doía a dor de tão doía que era. E eu só fazia chorar. Deu vontade de ver o mar! Ah… o mar me trazia lembranças doloridas. Daí comecei a sentir outra dor. Atenuava na lombar, bem no traseiro… Rompeu a bolsa e pronto! Era dor e doía mais do que qualquer outra que havia sentido na vida, mas era alivio também.

A pequena estava por vir!

Gritava, berrava, esperneava…

“Acuda ligeiro, Chico! Vou dar a luz…”

Helena de mente pequena.


Helena, estando exausta dos reveses da vida, levantou-se naquela quinta-feira cinzenta de setembro e resolveu ir a uma cartomante com o intuito de descobrir sobre seu amor perdido. Amor que talvez, nem existisse. Desejava arduamente um algo que preenchesse seu cinzento coração e que lhe fizesse esquecer do Mundo, num minuto que fosse. Helena queria uma data determinada para o fim de seu sofrimento e se bem me lembro, a cartomante envolta a um echarpe vermelho bordado com detalhes dourados delicados, cheia de pérolas (ou usando uma imitação tão boa quanto) fez questão de lhe dizer que o fim dos reveses da vida só termina junto com ela. Acredito que Helena não tenha entendido muito bem, mas sabia bem que ela se quer acreditava que se pudesse viver algo depois da morte… Uma coisa era certa: Helena só acreditava no que podia ver, tocar ou o que lhe pudessem provar e isso limitava seu Mundo.

Quando não se crê em nada e não se sente nada, não se vive. Apenas respira. O inferno é isso. O inferno é o não-sentir-mais-nada. Como ocorria com Helena. E sabe, pra uma jovem com a vida feita. Uma carreira definida e uma situação financeira muito estável, ela não tinha do que reclamar. Mas do que é que vale a vida sem um pouco de sonho? É besta dizer que a realidade nos comanda quando na verdade, é o sonho quem nos dá vida. Helena não tinha sonhos, apenas planos. E isso a afastava ainda mais do quase-amor que ela tanto procurava. Vazio é uma palavra curta pra nomear uma dor sem tamanho. Porque o vazio, meu caro, também é o inferno. O entregar-se e não ter-se, o irremediável, irrefutável. O sopro. Como uma tarde cinzenta e fria no porto. Vazio lembra desespero. Porque não ter ao que se apegar é coisa de louco… Mas cá entre nós, a loucura é necessária. A vida parece insossa sem os riscos, os quases.

Helena buscava em cartas e estrelas aquilo que só o seu coração podia ceder-lhe. O amor.

Helena era adepta da “sanidade-na-camisa-de-força”. Não acreditava. E, o amor é para os que acreditam.

Tenha piedade, Ó tempo!


Laurinha, meu doce, meu dengo e muitos outros meus”; lembro-me de ouvi-lo chamando-a assim. Laura, pelo que pude constatar, morria por tudo. Medo, angustia, tristeza, vergonha e sem tardar, é claro: de amor. Seus olhos azul-céu eram de uma profundidade que permitia-nos mergulhar em queda livre, não havia fim para todo aquele brilho, paz e esperanças. Espelhavam sua alma com perfeição. Seus dentes pareciam pérolas eternizavam seu lindíssimo sorriso em quem quer que o visse. Seu sorriso podia ser o Sol ou a Lua, ou simplesmente, ofuscá-los. 

As coisas entre ela e o moço eram invejáveis. Ah!, antes que eu me esqueça… Ele se chamava João. Nunca discutiam, raramente convergiam de opinião e desavenças, jamais foram vistas. Era simples e surpreendentemente, era amor. Via-se nos gestos, nos olhos, na forma como se tocavam… Sem complicações:eles eram felizes. E então, cresceram. E o tempo foi maior que o sentimento. João seguiu o vento e Laura ficou. Seus cabelos esvoaçantes serviam agora para enxugar suas lágrimas e seus seios possuíam rasgos do tamanho do Mundo. Era a saudade e quem sabe até a necessidade; de pouca coisa, talvez. Um abraço só, podia ser…

Sou eu, eu mesmo. O tempo.


                                “Compositor de destinos, tambor de todos os ritmos.
                             Tempo, tempo, tempo… És um dos deuses mais lindos…”

 Escreveram músicas sobre mim, mas até hoje minha beleza só é vista pelos que esperam. E eu sou aquele que escreve histórias e determina destinos. Separo pessoas e dou a resposta para enigmas indecifráveis. Eu, eu mesmo, separo e faço reencontrar. Vejo a vida dobrar esquinas e um ‘adeus’ virar ‘até lá’, ritmo amores e amenizo dores quando decido passar. Quiçá, eu também seja dor, mas disso, ó Céus!, os amantes é que sabem… Faço ficar, eternizar e cicatrizar, também mostro que nada é para sempre. Vou indo e vindo e, encontro pelo caminho significados e rostos diferentes para mim…
Amor, amor. Eu também sou abraço e sei que faço um bem danado! Ah. Eu não sou um deus e, nem sei minha idade. Sou contador de histórias e vejo amor virar dor, mas passa. Pra dor de amor, eu sou a cura. E passo até que as lembranças passem a atender pelo nome de experiência… Sou professor e também aluno.

Prazer, eu sou teu amigo.