quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Acuda ligeiro, Chico! Vou dar a luz.


Passaram-se quarenta e três semanas e nada. Já bufava desespero e nada. Nada, nada, nada. Nadica-de-nada. A criança que era de sexo feminino anunciava que seria uma bela jogadora de futebol ou no mínimo, baladeira. E eu sorria ainda. Os sapatos não cabiam nos pés e quando me olhava no espelho via praticamente um daqueles garrafões d’água de cinco litros. Retia todo o líquido que era possível e ‘esvaziava’ a cada dois minutos e meio. Meu marido, Seu Francisco, ria disso e daquilo. Ria de tudo. O coitado até que era bonzinho comigo, contando o tanto que eu estava me acostumando a repeli-lo… Eu ria, chorava, ria de novo e sentia uma fome, Ó céus! Sem ponto nem vírgula: eu era um elefante. Ou muito me assemelhava a um. Nossas outras crianças pareciam anjos a noite. Acho que sabiam direitinho a hora de fechar a matraca e aquietar o facho. Ou me temiam. O que era bem mais provável… Minhas mudanças de humor eram tão constantes que meu doutor disse:

_Oh mulher, ‘cê vai ter uma síncope antes de ter um filho!

Pro’cê ver a gravidade do negócio… E apesar de tudo isso, eu sentia um amor descomunal por aquele serzinho que já rendia quase quarenta e quatro semanas dentro de mim. Perdi o controle de uma vez numa tarde de quinta-feira. Mandei meu marido Chico ir pro quinto dos infernos quando ele me mandou ter calma e saí chutando tudo. Meus calcanhares estavam por me matar e ninguém entendia. Meus outros dois filhos até que eram amáveis, me faziam caricias e queriam ficar beijando minha barriga o tempo todo. Daí perdi a paciência! Era um puta saco ficar aguentando aqueles beijos lambidos na barriga justo num calor de quase quarenta graus, então fugi de todos. Corri o mais depressa que pude (e acreditem, isso era mais lento que uma tartaruga) para dentro do banheiro e passei a chave na porta. Se ali não era o céu, por deus, era algo bem perto disto… Relaxei, liguei a vitrola que por lá tinha e comecei a cantar Elis…

Eu sei que vou te amar, por toda a minha vida eu vou te amar…

Daí as lágrimas começaram a jorrar por minha face de forma involuntária, doía o peito, doía a dor de tão doía que era. E eu só fazia chorar. Deu vontade de ver o mar! Ah… o mar me trazia lembranças doloridas. Daí comecei a sentir outra dor. Atenuava na lombar, bem no traseiro… Rompeu a bolsa e pronto! Era dor e doía mais do que qualquer outra que havia sentido na vida, mas era alivio também.

A pequena estava por vir!

Gritava, berrava, esperneava…

“Acuda ligeiro, Chico! Vou dar a luz…”

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