sábado, 23 de junho de 2012




Fernanda querida, chore todas as tuas dores. Desespere-se, perca o controle! Pelo menos uma vez na vida, deixe de ser você. Eu sei, as vezes é insuportável nos ser e dói por muitas vezes só o fato de nossos corpos resistirem a morte. Porque a morte começa por dentro e vejo que você já jaz, querida. Tua vida se foi, como um sopro, e ninguém vê. Seu rosto, tatuado pela dor dos dias que se sucedem, é a figura mais realista da falta que alguém faz. Entrega teu coração a mim e me deixa tentar sará-lo, por favor. Deixe-me retalhar sua alma, cuidar das tuas feridas. Deixe-me descobrir um elixir qualquer que te faça querer viver novamente. Fernanda, querida, não saias sem aproveitar o melhor da festa. Viva para sorrir, para rir. Viva para ser feliz. Porque eu sei que uma hora ou outra, você vai. Assim como eu.

Arranca de ti as rosas que colocaram, arranca de ti essa coroa de flores. Arranca já! Arranje um perfume e deixe de lado esse aroma de velório. Fuja de ser você, se não aguentar mais, mas não desista de viver. Não desista de sonhar e ter esperanças. Algo bom para alguém bom. Sempre tem.

Helena.
“Cinco horas e meia num ônibus que chacoalhava mais do que as pulseiras de minha mãe. Este foi o primeiro choque de realidade que tive. Mais engraçado não podia ser, gente de verdade é a coisa mais linda do mundo! Uma mocinha que sentou-se ao meu lado me ofereceu um pedaço de bolo de fubá que confesso nem ser tão gostoso, mas o carinho, o cuidado e o sorriso da menina para mim, fizeram aquele bolo me forrar o estômago durante horas. Gente de verdade, gente de verdade! - sorria com o canto dos lábios enquanto escrevia em seu caderninho -. É disto que o mundo precisa: gente de verdade. A imagem da menina mulata com belíssimos cachos no cabelo nunca irá me sair da memória. De tão pura e linda, a menina era como um raio de sol. Conversou comigo um bocado durante a viagem e foi atenciosa ao ouvir as respostas que eu dava para as perguntas que ela fazia. Sua mãe vestia um belo vestido vermelho de bolinhas brancas com um cinto largo posto sob a cintura. Podia ser mais real? Tudo era tão colorido, tão cheio de vida. E eu parecia uma menina que nunca tinha visto o mundo. Sentia-me pequena diante de coisas tão simples que nunca antes me foram apresentadas. Tudo se resumia àquela cena: a menina, sua mãe, o bolo e o vestido de bolinhas. Simples. Eu seria capaz de ser feliz com aquilo. Eu seria capaz de ser feliz assim, somente com as coisas simples.”

Eu me desmancho por você, Chico.


Te aceito com as tuas manias, teus defeitos e tua barba por fazer. Te aceito, Francisco, com a sua mania feia de beber. Te aceito com o sorriso maior que a boca e o olhar maior que os olhos. Te aceito nem sei porquê e se sei, não quero dizer. Te aceito, Chico. Pronto. Sim, eu te aceito.
Faz careta, boca torta, fecha os olhos. Nem se quer uma fotografia descente você consegue tirar. Sempre tentando fazer piada de tudo, na maioria das vezes sendo mais inteligente do que precisa ser. Você e seu amor pelos números, você e seu estranho amor por mim... Morena voluptuosa, escandalosa, de coração maior que o peito. Como pode? Todo-todo. Letrado, vivido, cheio de bons amigos e más companhias. Como pode! Se interessar logo por mim? Por mim? Logo por mim?! Sempre fazendo a coisa errada no momento certo e me reconquistando com um sorriso simples. Um só.

Olha pra mim, Chico. Sem rir. Só olha...

Meus maiores segredos estão guardados nos teus olhos, meu querido. Trocando longas conversas por curtas bebedeiras, sem hora pra chegar e com hora pra sair. Eu aprendi a dormir acompanhada e acordar sozinha. Na hora H, você desaparece. Mas reaparece logo, todo malandro, sempre cheio de saudades. Teu cheiro, teu beijo, teu olhar... Ah! Estão todos tatuados em minh'alma. Ninguém te arranca de mim, homem. Porque... Porque... Eu não sei. Porque eu não quero - talvez -. Você traz cor pra minha vida, Chico. Você ilumina até os meus dias mais escuros.

Você quer ser grande, eu só quero ser sua.
Você quer o céu, eu só quero seus beijos.
Você quer a mim, eu quero a você. Simples assim.

Não sei se daria certo. Você assim, eu assim. Bossa, samba, pagode... Rock! Não sei não... Você não toma jeito e eu não sei se te endireito. Só sei que te aceito, assim, exatamente do jeitinho que você é. Eu te aceito. Nem precisa me pôr uma aliança no dedo, eu te aceito do mesmo jeito. Te aceito com cheiro de cachaça, com olheiras, de mal humor... Eu te aceito, Chico. E te cuido. E te amo. Porque, Chico, eu me desmancho por você.

Vem, minha moça flor, eu te aboleto.





Seus pés são iguais aos do teu pai, os dedinhos de vocês não encostam no chão. Você fala dele com tanta paixão que eu choro tua dor como se fosse minha. Seu coração é cheio de emplastros feitos pelo tempo para que você pudesse enfim se acostumar ao vago de não ter o teu esteio ao teu lado. Uma coisa eu tenho que dizer, esteja onde estiver, ele sempre estará ao seu lado. E ornará teus cabelos com flores, e tua cabeceira com bons sonhos que lhe acompanhem noite a fora, e cuidará para que sua dor nunca seja superior a tua força. Teu pai, teu papai, sempre cuidará para que suas lágrimas nunca toquem o chão e colocará um anjinho aqui outro acolá, vezenquando, pra tornar essa caminhada mais leve.


Disse a você certa vez que no meu caminho de pedras, você foi uma roseira inteira. A roseira que eu fiz questão de cuidar, e dar água e arrancar os galhos secos. Você é a roseira que enfeita meu caminho, o milagre da vida que mostra que mesmo a rosa mais doce têm espinhos. Quando a chuva e o vento lhe afligiram, lhe coloquei sob a redoma. “Ela é sozinha, porém, mais importante que todas vós, pois foi ela que eu reguei. Foi ela que pus sob a redoma. Foi ela que abriguei com o para-vento. Foi por ela que matei as larvas (exceto duas ou três, por causa das borboletas). Foi ela que eu escutei se queixar ou se gabar, ou mesmo calar-se algumas vezes, já que ela é a minha rosa.”, como disse Saint-Exupéry. Andando descalça num caminho de pedras, encontrei a roseira que trepava dentre os pedregulho da estrada. Delas todas você era a mais bonita, a que me saltava aos olhos. Quando veio o vento e a chuva, e eu não pude mais defender a roseira, te aboletei, pus sob a redoma e levei comigo. Ninguém te faria mal e meu amor não te deixaria murchar jamais. Porque eu te amo e te cuido. E para sempre será assim. Meus pés sangram de tanto andar no caminho de pedras, mas no fim, minha doce rosa, todas estas coisas serão recompensadas.


Mesmo sendo rosa, teus pés que são como os do teu amado e saudoso pai, dançam por aí e espalham a tua paz e a tua tormenta. Tua dança é a tua cura. E as chagas do teu coração não precisam de emplastro, querida. Para as chagas do coração a cura é o amor. E deixa que o meu há de preencher todas elas. Não vai sobrar fissura, ranhura ou o que quer que for. Eu te aboleto no meu seio e sinto a tua dor. Eu tomo as tuas chagas para mim e o meu amor te dará o escape. Porque eu te amo e te cuido, assim, exatamente do jeito que você é.


Onde quer que ele esteja, está feliz por quem você se tornou e com os pés iguais aos teus ele senta à tua cabeceira todas as noites pra velar o teu sono e te trazer o consolo. A dor não é maior que o teu peito, e teu pai, ornando os cabelos teus com belas rosas sorri ao ver que você sempre terá um lugar para que voltar. O meu coração.


Deixe-me dançar tua dança, sorrir o teu sorriso, chorar o teu pranto. Vem, minha moça flor, eu te aboleto. E te cuido. E te amo. Para sempre.