sábado, 23 de junho de 2012

“Cinco horas e meia num ônibus que chacoalhava mais do que as pulseiras de minha mãe. Este foi o primeiro choque de realidade que tive. Mais engraçado não podia ser, gente de verdade é a coisa mais linda do mundo! Uma mocinha que sentou-se ao meu lado me ofereceu um pedaço de bolo de fubá que confesso nem ser tão gostoso, mas o carinho, o cuidado e o sorriso da menina para mim, fizeram aquele bolo me forrar o estômago durante horas. Gente de verdade, gente de verdade! - sorria com o canto dos lábios enquanto escrevia em seu caderninho -. É disto que o mundo precisa: gente de verdade. A imagem da menina mulata com belíssimos cachos no cabelo nunca irá me sair da memória. De tão pura e linda, a menina era como um raio de sol. Conversou comigo um bocado durante a viagem e foi atenciosa ao ouvir as respostas que eu dava para as perguntas que ela fazia. Sua mãe vestia um belo vestido vermelho de bolinhas brancas com um cinto largo posto sob a cintura. Podia ser mais real? Tudo era tão colorido, tão cheio de vida. E eu parecia uma menina que nunca tinha visto o mundo. Sentia-me pequena diante de coisas tão simples que nunca antes me foram apresentadas. Tudo se resumia àquela cena: a menina, sua mãe, o bolo e o vestido de bolinhas. Simples. Eu seria capaz de ser feliz com aquilo. Eu seria capaz de ser feliz assim, somente com as coisas simples.”

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