sábado, 23 de junho de 2012

Vem, minha moça flor, eu te aboleto.





Seus pés são iguais aos do teu pai, os dedinhos de vocês não encostam no chão. Você fala dele com tanta paixão que eu choro tua dor como se fosse minha. Seu coração é cheio de emplastros feitos pelo tempo para que você pudesse enfim se acostumar ao vago de não ter o teu esteio ao teu lado. Uma coisa eu tenho que dizer, esteja onde estiver, ele sempre estará ao seu lado. E ornará teus cabelos com flores, e tua cabeceira com bons sonhos que lhe acompanhem noite a fora, e cuidará para que sua dor nunca seja superior a tua força. Teu pai, teu papai, sempre cuidará para que suas lágrimas nunca toquem o chão e colocará um anjinho aqui outro acolá, vezenquando, pra tornar essa caminhada mais leve.


Disse a você certa vez que no meu caminho de pedras, você foi uma roseira inteira. A roseira que eu fiz questão de cuidar, e dar água e arrancar os galhos secos. Você é a roseira que enfeita meu caminho, o milagre da vida que mostra que mesmo a rosa mais doce têm espinhos. Quando a chuva e o vento lhe afligiram, lhe coloquei sob a redoma. “Ela é sozinha, porém, mais importante que todas vós, pois foi ela que eu reguei. Foi ela que pus sob a redoma. Foi ela que abriguei com o para-vento. Foi por ela que matei as larvas (exceto duas ou três, por causa das borboletas). Foi ela que eu escutei se queixar ou se gabar, ou mesmo calar-se algumas vezes, já que ela é a minha rosa.”, como disse Saint-Exupéry. Andando descalça num caminho de pedras, encontrei a roseira que trepava dentre os pedregulho da estrada. Delas todas você era a mais bonita, a que me saltava aos olhos. Quando veio o vento e a chuva, e eu não pude mais defender a roseira, te aboletei, pus sob a redoma e levei comigo. Ninguém te faria mal e meu amor não te deixaria murchar jamais. Porque eu te amo e te cuido. E para sempre será assim. Meus pés sangram de tanto andar no caminho de pedras, mas no fim, minha doce rosa, todas estas coisas serão recompensadas.


Mesmo sendo rosa, teus pés que são como os do teu amado e saudoso pai, dançam por aí e espalham a tua paz e a tua tormenta. Tua dança é a tua cura. E as chagas do teu coração não precisam de emplastro, querida. Para as chagas do coração a cura é o amor. E deixa que o meu há de preencher todas elas. Não vai sobrar fissura, ranhura ou o que quer que for. Eu te aboleto no meu seio e sinto a tua dor. Eu tomo as tuas chagas para mim e o meu amor te dará o escape. Porque eu te amo e te cuido, assim, exatamente do jeito que você é.


Onde quer que ele esteja, está feliz por quem você se tornou e com os pés iguais aos teus ele senta à tua cabeceira todas as noites pra velar o teu sono e te trazer o consolo. A dor não é maior que o teu peito, e teu pai, ornando os cabelos teus com belas rosas sorri ao ver que você sempre terá um lugar para que voltar. O meu coração.


Deixe-me dançar tua dança, sorrir o teu sorriso, chorar o teu pranto. Vem, minha moça flor, eu te aboleto. E te cuido. E te amo. Para sempre.

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